segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Top 40 Músicas de 2015™



               “Mas Júlio, aumentou o tamanho da lista de novo?” Claro! Eu já perdi completamente o controle de qualquer maneira.
            2015 foi um ano muito legal no meu pequeno mundinho musical, e como de costume quero compartilhar as músicas que eu mais curti ao longo desse ano. Como de praxe: na maioria é metal e seus derivados, mas nem tudo. Isenção e imparcialidade passam longe.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Releituras #1 - O Cemitério de Praga



            Reler os seus livros favoritos de tempos em tempos é sempre uma aventura fascinante. Um livro sempre vai ter muito mais coisa para contar na segunda vez que você o ler, ou na terceira, ou na quarta, por aí vai. E principalmente: você vai ter lido outros livros nesse meio tempo. 

            A leitura constante é um exercício que ajuda muito a agregar conhecimentos. Dos mais banais e tolos até os mais complexos e profundos. Qualquer livro que você for ler vai te deixar alguma coisa, algum conhecimento, algo que você lembrar eventualmente em alguma situação, mesmo que o tal do livro seja bem ruim ou raso. Leitura sempre agrega, seja do tipo que for. 

            Então, quando a pessoa pega algum dos seus livros favoritos na estante depois de muito tempo, ela vai ter mais conhecimentos, vai ser uma pessoa diferente, e com certeza há de pescar pequenos detalhes novos e fascinantes naquelas histórias que já havia conquistado tanto tempo antes. 

            Parei para pensar nisso enquanto relia O Cemitério de Praga algumas semanas atrás. Eu ando sem grana para comprar livros novos, e também bastante inquieto e perturbado por uma série de motivos, e acabei me voltando em busca de conforto aos meus velhos amigos que estavam juntando poeira na estante. 

            Li o livro pela primeira vez em 2012. Lembro muito bem das horas e mais horas que ele me deixou absorto, e completamente mergulhado na leitura. O mesmo efeito que O Nome da Rosa havia me causado lá pelos idos de 2006, quando li esse pela primeira vez. Umberto Eco desde então é um dos meus escritores favoritos. 

            Nesse meio tempo eu relia passagens e aqui e ali do livro, mas nunca uma releitura propriamente dita. Quando me entreguei a esse projeto definitivamente foi com muito prazer que me dei conta das coisas que comentei mais acima. Eu sentia o mesmo encanto, o mesmo fascínio, dei as mesmas risadas. Mas tudo parecia maior, tudo parecia mais vivo e mais diferentes olhares sobre a mesma cena. 

            O exemplo mais claro que me vem a mente é O Rei de Amarelo, de Richard W. Chambers. Alguns dos contos do livro se passam na Paris cercada pelas tropas Prussianas, e posteriormente bombardeada pelas mesmas. Outros são na Paris antes e disso e outros na Paris depois disso. Foi realmente incrível me dar conta da forma como essa nova perspectiva deixou a leitura dos relatos mirabolantes de Simone Simonini ainda mais saborosos e vivazes.

            Os livros nos transformam. Eles nos moldam. Por muito tempo pensei que eu nunca tinha mudado, que era basicamente o mesmo sujeito desde os 15/16 anos. Eu via os meus amigos e colegas mudares, de opiniões, de idéias e de modos de vida, mas eu me sentia sempre o mesmo. Mas de um tempo para cá me dei conta que mudei e mudei muito. As coisas pelas quais eu passei me mudaram muito mais do que eu me deixei reparar, e os livros que li no meio desse caminho ajudaram também. E os que reli também. Cada vez é uma nova experiência, e essa experiência vai com certeza mudar você. 

            Enfim, passear outra vez por aquele cemitério soturno, de lápides tortas que se amontoavam como um espinheiro, e ouvir os rabinos judaicos a conspirarem para dominar o mundo, me foi uma experiência reveladora. E prazerosa demais. É sempre muito bom reencontrar um bom amigo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Narcos - A Primeira Temporada



       
     Quando se fala em Colômbia, instintivamente vêm à mente três coisas: café, Gabriel García Márquez e cocaína (e Shakira também, pra ser bem honesto). Certo, eu admito que isso soe bem tolo e um bocado estereotipado. Mas mesmo assim, é preciso ser dito que todo estereotipo tem alguma verdade em si, e os fios da ficção podem ser puxados aqui e ali cuidadosamente e com isso criar algo verossímil e fantástico.
            É esse o caso de Narcos, uma das empreitadas mais recentes da gigante Netflix.
            Logo no primeiro episódio nos deparamos com um breve texto falando sobre o realismo fantástico e sobre como ele só poderia ter surgido na Colômbia. Claramente uma menção ao inesquecível Gabo e suas histórias mágicas e incrivelmente humanas, onde o fantástico e o surreal surgiam em meio aos cenários mais banais e mundanos. E isso é pego emprestado na série, que conta uma história tão incrível e impressionante que realmente poderia ter acontecido somente na Colômbia.
            Trata-se de uma história real costurada  com elementos de ficção, sobre a ascensão do maior traficante de cocaína de toda a história e o império que ele construir com muito sangue derramado. Além disso, também é sobre a caçada que as autoridades fizeram atrás dele durante mais de uma década.
            Mas eu acho que seria muito injusto definir a série apenas como isso. Seria apenas uma sinopse vazia. Não é uma série apenas sobre Pablo Escobar, ou sobre o agente Murphy e a sua desconstrução de caráter ao longo dos anos ou apenas sobre o problema do tráfico em si. Existe muito mais nisso, uma história que se aprofunda no questionamento sobre o que é o poder e como ele transforma as pessoas e as coloca diante de dilemas pesados e angustiantes.
            Muito se fala sobre a figura implacável e sanguinária de Pablo Escobar e sobre como construiu seu insanamente lucrativo império. Ele seria um monstro, impiedoso e que não mede conseqüências. De fato, ele fora tudo isso mesmo, não se pode negar. Mas apesar disso, havia um ser humano por trás do monstro. E a série muito cuidadosa em mostrar a jornada de transformação de Pablo, as suas nuances, contradições e estranhos idealismos. Mesmo com todos os seus atos cruéis e sanguinários, eu não tenho como não achar Pablo Escobar uma das personalidades mais fascinantes do século XX.
            O espanhol de Wagner Moura pode não ser digno de um Miguel de Cervantes da vida, mas eu realmente pouco me importo com isso, pois a atuação do brasileiro transcendeu o simples fator lingüístico. Wagner encarnou o personagem com maestria, transmitindo toda sua complexidade e pluridimensionalidade, de um homem que transita confortavelmente entre o amoroso pai de família e amigo das comunidades carentes e o sanguinário chefe do tráfico de cocaína que tem basicamente controle sobre todo um país em suas mãos.
            E é nesse ponto que entra a questão da faceta transformada do poder. Pablo começa sua jornada cheio de planos e ideais; parecendo que genuinamente quer fazer de seu país um lugar melhor para o povo. Mas a quantia inacreditável de dinheiro que conquista com o tráfico e o aumento exponencial de suas operações, acabam o transformando em um sociopata manipulador e paranóico, e com o passar do tempo essa se tornou a imagem com a qual ele foi vinculado para o mundo. De certa maneira, Pablo criou um mundo alternativo para si mesmo, onde era deus e rei, e sentava-se em um trono de dinheiro que o fazia intocável.
            Intocabilidade essa que no fim das contas o fez solitário. Sua megalomania o transformara em alvo não só do governo colombiano, mas também dos Estados Unidos. Foi caçado de todas as maneiras possíveis, e a cada escapada miraculosa ficava mais paranóico e mais afastado da tranqüila vida que um homem de espírito mediano como ele no fundo desejava.
            Mas como eu disse antes, Narcos não é apenas sobre Pablo. Toda a trama passeia delirantemente entre as relações de poder nos mais diferentes níveis. Dos traficantes, do exército, do presidente da Colômbia e muito da pesada e influente mão do governo norte-americano. Pode-se dizer então que um dos motes principais da série tem a ver com política e suas complicadas e perigosas derivações.
            Tudo isso já é muito fascinante e prende a atenção do espectador por si só, mas a produção consegue se elevar ainda mais com o seu toque documental que mescla material original da época, como vídeos, fotos e artigos de jornal, com o que foi feito para a série. Alie-se a isso os vários momentos onde a direção opta por tomadas cheias de movimentos e balanços, com a câmera acompanhando a ação com energia, passando um ar de curiosidade e tensão. E ainda por cima há a frieza com que os atos de brutalidade são retratados, de forma direta e impactante, sem adornos ou amenizações, apenas a velha e cruel realidade retratada com muito sangue, tiros, estupro e sem nenhuma meia medida. É a conhecida mão de José Padilha fazendo o seu sempre muito competente trabalho.
            Outra coisa interessante de ressaltar é a enxurrada de informações e detalhes que é passada ao espectador sobre o funcionamento assombroso do tráfico de drogas. Sobre como a cocaína é produzida e distribuída, sobre como o dinheiro é movimentado e escondido nos lugares mais improváveis, sobre as loucuras que os chefes do tráfico fazem esbanjando toda essa montanha de dinheiro que eu eles nem sabem como gastar. E também toda a rede de aliciamento e corrupção que um negócio desses é capaz de criar, espalhando galhos e raízes em todas as direções. E isso é o realismo fantástico em sua essência mais genuína e que honra a tradição colombiana e latina do gênero. Gênero esse que conquistou e fascinou ma legião de fãs ao redor do mundo.
             Então, eu acho que seja justo dizer que Narcos foi muito competente em mimetizar de maneira correta e coerente as dinâmicas e mecanismos do realismo fantástico e entregar um material muita qualidade, possivelmente uma das melhores produções do ano e que eu não acho nenhum absurdo pleitear alguns prêmios na próxima temporada de premiações. 
                Enfim, uma série que talvez não seja totalmente brilhante e impecável, mas que é com certeza de muitos méritos e vale demais a pena ser assistida. É compacta, tem só 10 episódios, e pode ser vista tranquilamente em um final de semana. Confira!


P.S. - Um beijo pra Luisa, que viu um pedaço da temporada comigo s2

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Blind Guardian em Porto Alegre



            Eu passei por alguns momentos bastante complicados nas últimas semanas. A chuva que caiu incessante sobre o Rio Grande do Sul comprometeu quase por completo todo o meu trabalho na minha lavoura de tomate, e isso me deixou abalado demais. Quem me conhece bem sabe como isso tudo é importante para mim, o que até explica o nome desse blog, e viu no decorrer desse tempo o quanto eu fiquei perturbado.
            É uma questão de identidade. Esse trabalho me dá um sentido pra vida, me faz ter os dois pés no chão e me faz sentir que faço parte de algo, que o meu esforço tem sentido e serve para alguma coisa. O dinheiro perdido é o que menos importa. O problema, então, é agüentar a frustração e a angústia de ver todo o esforço e a dedicação indo ralo abaixo por condições das quais eu não tenho o mínimo controle. E o pior: esses sentimentos só fazem acordar os fantasmas do meu passado que voltam pra me assombrar sem um pingo de piedade.
            Mas enfim, você aí que numa dessas estiver lendo esse texto deve estar se perguntando: mas o que diabos isso tem a ver com o show do Blind Guardian?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Casa de Isabel - Clara Mello

       Eu ganhei esse livro em um sorteio do twitter do Canal Futura, e isso foi o tipo de acaso que me faz descobrir algo que eu muito provavelmente ignoraria solenemente se dependesse do meu próprio interesse. Quando chegou pelo correio e eu li a sinopse na contracapa dei aquele franzir de cenho cheio de desconfiança que quer dizer algo como "ah cara, não sei não".
     Clara Mello é uma jovem escritora carioca que publicou esse livro quando tinha apenas 16 anos e chamou a atenção de muita gente por sua maturidade e sensibilidade com as quais tratou os assuntos abordados na história. Chegou a ganhar prêmios inclusive. Quem me conhece sabe que esse definitivamente não é o tipo de livro que me atrai, mas no fim das contas, acabou se tornando uma peculiar surpresa. 
       É um livro bem leve e curto, tem só 144 páginas, e a leitura flui de uma maneira muito rápida e prazerosa. Daqueles livros de serem lidos de uma vez só. A história se passa em uma casa durante um carnaval chuvoso marcado por uma tragédia que reaproxima dois amigos de infância que a vida adulta havia separado. E aborda temas profundos e relevantes como amor, solidão, morte e os rumos da vida. De fato, Clara consegue falar sobre esses temas com uma habilidade convincente.
       Pessoalmente, eu considero o estilo da narrativa como algo fluindo entre aquelas histórias de livros infantojuvenis que a gente lia direto enquanto estava na escola com algo mais adulto e maduro, que flerta com a literatura mais elevada. Me peguei pensando nisso em vários momentos, como se fosse uma história escrita por duas pessoas de duas idades bem distintas. Uma com a inocência e fervor da juventude, e outra que tem as epifanias um tanto pessimistas de alguém mais experimentado na vida. 
       No fim, acaba se tornando uma história bonita e tocante, sobre descobertas e o tempo perdido, permeada por um ar idílico surpreendente, que vai e vem entre o pesado e o leve, o delírio e a sobriedade, o vívido e o etéreo. 
        Realmente muito interessante, e pode ser bastante significativa pra pessoas de todas as idades.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Galveston, True Detective e Nic Pizzolatto



A segunda temporada de True Detective não agradou a maioria dos fãs que se apaixonaram pela série com sua primeira temporada praticamente irretocável. Eu, por outro lado, adorei esta segunda temporada, mas entendo perfeitamente quem não gostou. Foi uma história muito mais pesada e densa, mais obscura e sufocante, onde os personagens se viram arrastados a um jogo ao qual eles já haviam perdido antes mesmo de começar. Foi difícil de engolir, teve um sabor muito amargo. Muita gente não se atrai por esse tipo de história (o que não tem nada demais, diga-se de passagem, cada é livre para gostar ou não do que bem entender), mas outras pessoas, como eu, sentem certo tipo de atração por histórias quase mórbidas como essa.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O Mundo de Gelo e Fogo (E Outros Pitacos)



            Eu fico extremamente nervoso quando leio as seguintes palavras: “George RR Martin perdeu o interesse em As Crônicas de Gelo e Fogo.”
            Mas muito nervoso mesmo. Isso só evidencia algo de que eu tenho certeza faz muito tempo, algo que denota a preguiça intelectual de muita gente. As pessoas têm visão curta. Curtíssima, parecem que não conseguem enxergar um palmo a sua frente o ou um pouco mais a fundo do que o parágrafo de um livro ou uma cena de uma série de tv. Enxergam apenas a superfície, a casca e a embalagem, mas poucas vezes reconhecem a proposta e o valor do que está realmente dentro, escondido no fundo de várias camadas.
            As Crônicas de Gelo e Fogo é uma obra que transcende a fantasia, é drama na sua forma sua mais genuína: é conflito. Conflito entre pessoas, entre interesses, sentimentos, e o mais importante de tudo, é o coração humano em conflito consigo mesmo, parafraseando William Faulkner. E não existe exemplo melhor disso o que os dois últimos livros, que muita gente considera chatos. Eu não vou me alongar nisso, afinal não é a proposta desse texto, então recomendo a leitura dos ensaios desse site https://meereeneseblot.wordpress.com/essays/ onde o autor disseca os principais arcos de Festim/Dança de forma surpreendente, fazendo com que até mesmo eu, que já tinha adorado esse estágio da saga, tenha uma visão completamente nova e revigorada da história.
            Algum tempo atrás eu escrevi um texto a respeito do conto The Princess and the Queen, e comentei que ele era prova o suficiente para mim de que o George continua sim muito interessado na sua obra. E agora, algum tempo após terminar de ler O Mundo de Gelo e Fogo e muito meditar, não me restam mais quaisquer dúvidas. George RR Martin continua se entregando de corpo e alma a essa história.
            Com a ajuda dos seus fiéis escudeiros, Linda e Elio do westeros.org (o melhor site relacionado a saga, recomendo demais), George criou uma das obras complementares mais fantásticas que eu já vi. Sinceramente. Eu corro o perigo de soar apenas como um fanboy que surta com qualquer coisa do seu universo favorito (e talvez eu seja isso mesmo), mas a questão é que esse livro não é qualquer coisa.
            Antes de continuar é preciso dizer que existem algumas falhas aqui e ali, incoerências e inconsistências, além de alguns problemas de tradução na versão brasileira, mas absolutamente nada que comprometa o valor e relevância da obra. De certa forma, poderia ser usado o argumento de que a culpa é das informações desencontradas nos registros do meistre que escreveu o livro (não é um argumento de verdade, mas fica a gracinha).
            O trabalho dos ilustradores é nada menos que sublime. Dezenas de artistas talentosos que encheram o livro com imagens maravilhosas e encantadoras, realmente de ficar de boca aberta.
            A quantidade de informação é surreal. De todos os lados e direções (inclusive com pequenos fragmentos de informações despretensiosas mas intrigantes, que alguém poderia associar com eventos do passado da história, do presente e talvez até mesmo do futuro). Em especial na história das grandes casas e dos reinos, das cidades livres e das terras ao leste e, o que pessoalmente me chamou mais a atenção e me deixou fascinado, um relato aprofundado da dinastia Targaryen, desde Aegon o Conquistador até o Rei Louco Aerys e a Rebelião de Robert. Simplesmente fantástico. Uma quantidade absurda informações que poderia ser ainda maior se não tivessem que cortar partes para evitar que o livro ficasse grande demais.
            Agora você aí que numa dessas estiver lendo isso me responda: alguém que precisa editar material que escreveu porque ficou grande demais é alguém que perdeu interesse? Alguém desmotivado e que escreve por obrigação?
            No texto que eu falei ontem sobre The Princess and the Queen, eu também tinha comentado sobre como essas outras histórias ampliam ainda mais o universo, como elas o tornam ainda mais colorido, palpável e fascinante. E agora com O Mundo de Gelo e Fogo esse universo se eleva a toda uma nova categoria de realismo que se funde com a fantasia e misticismo, cheio de vida e vigor, encantador e assustador.
            Então é o seguinte: não me venham com esse papo furado de perda de interesse. As provas de que isso é bobagem estão aí pra quem quiser apertar um tantinho os olhos e olhar além do próprio umbigo.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Paradise Lost - The Plague Witihin



            Não existe jornada que seja feita em linha reta. Você começa em algum lugar, tendo claramente em vista o seu objetivo. Durante algum tempo você segue nesse caminho, determinado a chegar ou lá. Mas não demora muito e você logo se depara com uma curva, com uma ladeira íngreme para cima ou para baixo, alguma enorme montanha onde você precisa decidir se escala ou dá a volta ao redor, um rio, um lago ou o próprio mar. São obstáculos, barreiras, impedimentos. Mas você continua. Sempre vai, afinal a vida é uma grande jornada que só termina no nosso último suspiro. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Obrigado Mad Men



       
           Não foi muito longo o tempo que Mad Men fez parte da minha vida. Pra ser exato, menos de um ano. Revirando minha timeline do facebook lembro que vi o piloto da série em 22 de junho de 2014, uma entediante e chuvosa noite de sexta feira. Não me recordo muito bem qual foi o motivo que me fez começar a serie naquele momento, talvez mais um dos incontáveis elogios que já havia lido no twitter ou em site de séries. Mas isso não importa, o que realmente importa é a poderosa experiência que as sete temporadas dessa série me proporcionou. 


terça-feira, 5 de maio de 2015

Eu não existo

Eu honestamente tinha pensado que os dias de blábláblá depressivo desse blog fossem coisa do passado (dia desses dei uma olhada nos posts mais antigos e me bate uma vergonha do caralho). Ora, doce ilusão.

Não adianta, cara, quando você carrega consigo todas as suas amarguras e remorsos o tempo todo, quando eles estão sempre ali na espreita prontos para dar o bote, por mais que você tente se esquivar eles sempre vão voltar. É cíclico. Eu tento mudar um pouco minhas atitudes, ser menos exagerado, falar menos bobagem e ser alguém minimamente tolerável, Mas de novo: não adiante. A angústia sempre volta, e demanda ser expurgada por autodepreciação, piadas retardadas e muito, muito amargor nas famigeradíssimas """"redes sociais"""". E eventualmente alguns rabiscos em um blog que ninguém lê.

E aí que reside o maior problemas de todos. Internet.
Eu só existo aqui, em arroubos de estupidez, torrentes de comentários vazios sobre heavy metal e seriados, alguns esportes que ninguém mais gosta. Fora disso? A rotina de acordar-trabalhar-almoçar-trabalhar-jantar-dormir, costurada com as coisas que falo e faço na internet. Vai dizer que não é deprimente? Eu realmente não existo. Eu não saio de casa em um fim de semana, ou pra fazer alguma coisa que eu realmente queira, tem praticamente quatro anos.

Eu posso dizer que já tive amigos de cotidiano, de vida real, ótimos amigos, que se importavam e até certo ponto gostavam de mim. Depois de terminar o ensino médio e fracassar amargamente em tudo o que tentei fazer depois disso, comecei essa clausura e praticamente afastei todas essas pessoas. Acho que na maior parte inconscientemente, e outros poucos talvez com uma dolorosa consciência, em impulsos e palavras ditas sem terem sido medidas antes. Me ligavam convidado pra fazer coisas, mas eu sempre recusava da maneira mais gentil, em um misto de preguiça e falta de vontade (e às vezes também simplesmente não dava, sejamos justos), até o dia em que essas ligações pararam. Eu não recebo uma ligação de um amigo tem uns três anos. Eles se cansaram, como todas as pessoas  com as quais eu me relaciono, nos mais diversos níveis, eventualmente acabam se cansando.  No fim das contas eu sou uma pessoa tóxica, eu irradio o meu mau humor e ressentimentos de uma forma muito mais forte do que as (muito poucas) coisas boas sobre mim. Cedo ou tarde as pessoas se dão conta da casca vazia que eu sou e se afastam.

Mas apesar disso tudo, essas coisas me perturbam bem menos hoje do que em outros momentos da minha vida. É uma questão de aceitação. Eu me aceitem como um saco de lixo humano que vai passar cada dia da sua existência sozinho. Não me entendam mal, eu não tenho depressão nem nada, dizer isso seria uma tremenda bobagem e um desrespeito com quem realmente sofre com essa doença. É apenas a frieza da lucidez falando, apontando com rijos dedos os erros que eu cometi e que me levaram a este bueiro existencial. Também não vou dizer que sou vítima disso ou daquilo, de daddy issues ou de ter sido incompreendido. Não, eu simplesmente sou um fracassado por natureza.

O lance de viver sozinho é a certeza mais forte. Eu não tenho nada pra oferecer. E não digo que eu ache que deveria sustentar minha esposa e toda essa ladainha anos 30. Eu vou viver nesse buraco chamado Roncador pra sempre, me fodendo todo santo dia na roça, porque eu não tenho o menor jeito de fazer qualquer outra da vida. O que isso agregaria na vida de alguma mulher que vai ter a sua carreira, os seus sonhos e objetivos? Nada, nadinha. Eu nunca prenderia alguém a uma vida insossa no meio do nada. Muito menos casaria e formaria uma família pura e simplesmente por conveniência social. 

E vai muito além disso. Quem iria querer manter um relacionamento com uma pessoa com crises de ansiedade que a fazem jogar tudo para o alto de repente? Que tem o toque de Midas reverso e destrói tudo o que de bom poderia ter? Alguém sem perspectiva NENHUMA de futuro? Alguém que mal sabe falar direito porque perdeu a prática? Alguém que a única coisa que causa excitação é um show de heavy metal quase um ano no futuro? Enfim, acho que deu pra entender.

Sabem, isso aqui não é bem um chororô ou uma poça suja de autopiedade. Nem justificativa de nada. Eu não vou tentar me eximir da minha condição de fracassado e inútil. É uma constatação.  Eu meio que senti a necessidade de falar essas coisas. Só falar, botar pra fora, tirar um pouco o peso da angústia na consciência. São pensamentos recorrentes na minha cabeça. Talvez isso me ajude a deixar eles um pouco de lado.

Possivelmente não vai, mas o que vale é a tentativa né?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Blind Guardian - Beyond the Red Mirror





      
             Escrever sobre a sua banda favorita, aquela banda que significa muito para você e que realmente mexe com os seus sentimentos, é um negócio que pode ser bastante traiçoeiro. É muito fácil se perder em indulgência cega, deixar de lado a razão e colocar em um altar sagrado qualquer coisa que a sua banda favorita ponha no mercado, mesmo que seja visivelmente um produto de muito pouca qualidade.
            Mas eu acho que posso me considerar um sujeito de sorte, porque a minha banda favorita é o Blind Guardian.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Marco Polo - A Primeira Temporada




Vivemos todos sob a sombra dos que vieram antes de nós. E no futuro as pessoas viverão sob a nossa sombra. De uma maneira ou de outra, seja sob a sombra de nossos sucessos ou de nossos fracassos. É a sombra do legado.
Marco Polo dramatiza ficcionalmente as aventuras do explorador italiano do século XIII que desbravou o oriente e assombrou as cortes européias com as histórias de suas aventuras. Mas no fundo, o cerne desta fantástica produção original da Netflix é algo mais sensível e humano do que isso: é sobre legado.
Marco tenta viver a altura do legado da família Polo, que seu pai e tio cultivaram ao longo dos anos com viagens pelas rotas de comércio, juntando riquezas e histórias que engrandeceram tal nome. Da mesma forma vive o grande imperador mongol Kublai Khan, sob a sombra e o fantasma de Genghis e seus feitos heróicos que construiriam o maior império do mundo.
Esses dois personagens, de mundos tão distintos e distantes, com vidas e experiências tão diferentes um do outro, tem o norte da sua vida em corresponder as expectativas que seu nome traz consigo, ao mesmo tempo em que anseia criar algo seu, que marque seu nome na história e que jamais sejam esquecidos. É um medo, uma angústia, uma necessidade visceral que move impérios.
Esses elementos dos personagens ganharam vida na tela graças as grandes interpretações de Lorenzo Richelmy e Benedict Wong. Um Marco e um Kublai cheios de sombras, tonalidades e camadas, vivos e que causam simpatia. Marco precisa se adaptar para sobreviver, se provar leal e útil a cada dia que passa, tendo que muitas vezes ir contra suas convicções para não ser engolido pelo insaciável jogo da conspiração cortesã.
E Kublai é um personagem fantástico. Tão rico, profundo e perturbado. Ele é a representação de dois mundos colidindo, de duas heranças que não podem conviver em paz no mesmo espaço. Ele se espreme entre suas raízes mongóis duras e ásperas, de sangue impiedoso e conquistador, e o império cosmopolita e tolerante que seu avô Genghis e ele mesmo construíram, repleto de luxos e comodidades que o mongol das estepes não vê com bons olhos. E por isso que eu considero a melhor cena da temporada a qual Kublai, bêbado e desesperado, questiona uma antiga armadura de Genghis sobre porque ele não conseguira derrubar os muros de Xiangyang e conquistar toda a China, deixando para ele esse fardo.
O ótimo e sensível roteiro concebido por John Fusco é outro dos pontos que fazem desta série algo tão bom e relevante. Juntamente com um competente time de escritores, a história ganhou corpo e consistência narrativa, dosando o drama e ação de uma forma natural e intuitiva, que em momento nenhum soou forçado ou expositivo demais. As nuances dos personagens foram trabalhadas com cuidado e empenho, fazendo com que a trama trata-se de seus temos de forma tênue, quase subliminar, mas estando sempre ali a mostra e fundamentalmente presente.
Direção e fotografia também são aspectos de destaque. Os diretores souberam muito bem usar as paisagens exuberantes das locações para criar um cenário absolutamente convincente, que faz você realmente se sentir vendo a Mongólia e a China do século XIII. Nisso igualmente a equipe de ambientação histórica tem um mérito imenso, pois criaram cenários, roupas, festividades, banquetes, utensílios e acessórios tão cuidadosamente, que conseguiram uma perfeita experiência de imersão visual. Talvez existam discrepâncias históricas, não tenho muita certeza, mas acho que isso se torna irrelevante comparado a todos os outros pontos positivos da série. 
As motivações, ambições e sonhos dos demais personagens também são importantes. Cada um deles deseja seu próprio legado, cada um quer ter o seu lugar de importância, seja ele de fama, poder, influência ou mesmo sobrevivência. O príncipe Jingim se parece com Kublai, tentando ao máximo honrar seu sangue mongol, apesar de sua criação ter sido nos moldes chineses. Os filhos bastardos do Khan, guerreiros ou conselheiro, os servidores chineses, turcos, persas, indianos e todos os cantos do império. As prostituas e as concubinas. A imperatriz que é o porto seguro e o norte do Grande Khan. Os “hóspedes” da corte, eunucos, guardas e soldados. Todos eles com cor, vida e relevância.
E os inimigos chineses, claro. O Ministro Grilo e suas artimanhas que às vezes nos levam a arregalar os olhos como se estivéssemos vendo Game of Thrones.
Mas o meu personagem favorito é sem sombra de dúvidas Hundred Eyes, o mestre cego de Kung Fu que ensinou a Marco muito mais do que simplesmente sua arte marcial. O ensinou a sobreviver naquele corte, ensinou sabedoria, e tornou-se um improvável amigo e companheiro de importantes missões.
Enfim, essa é uma história que vai muito além da simples aventura. Tem drama, ação e paixão (inclusive, eu gostaria que os roteiristas de Game of Thrones vissem essa série para aprender a retratar nudez e sexo sem ser grosseiro e juvenil), traição, conspiração e muitas mortes e sangue. Mas o grande mérito reside mesmo nesses pequenos detalhes das personalidades dos personagens centrais e secundários. A sua busca por um legado, por sobrevivência e grandes realizações.
Da mesma forma que o desejo por uma “grande aventura” é algo inerente à natureza humana, esse sentimento de que é preciso sair da sombra dos que vieram antes de nós também é. Talvez até maior, e com certeza mais concreta e realizável.
Definitivamente uma das melhores produções lançadas em 2014. E eu espero que a segunda temporada seja tão boa quanto esta primeira.