Reler
os seus livros favoritos de tempos em tempos é sempre uma aventura fascinante.
Um livro sempre vai ter muito mais coisa para contar na segunda vez que você o
ler, ou na terceira, ou na quarta, por aí vai. E principalmente: você vai ter
lido outros livros nesse meio tempo.
A
leitura constante é um exercício que ajuda muito a agregar conhecimentos. Dos
mais banais e tolos até os mais complexos e profundos. Qualquer livro que você
for ler vai te deixar alguma coisa, algum conhecimento, algo que você lembrar
eventualmente em alguma situação, mesmo que o tal do livro seja bem ruim ou
raso. Leitura sempre agrega, seja do tipo que for.
Então,
quando a pessoa pega algum dos seus livros favoritos na estante depois de muito
tempo, ela vai ter mais conhecimentos, vai ser uma pessoa diferente, e com
certeza há de pescar pequenos detalhes novos e fascinantes naquelas histórias
que já havia conquistado tanto tempo antes.
Parei
para pensar nisso enquanto relia O Cemitério de Praga algumas semanas atrás. Eu
ando sem grana para comprar livros novos, e também bastante inquieto e
perturbado por uma série de motivos, e acabei me voltando em busca de conforto
aos meus velhos amigos que estavam juntando poeira na estante.
Li
o livro pela primeira vez em 2012. Lembro muito bem das horas e mais horas que
ele me deixou absorto, e completamente mergulhado na leitura. O mesmo efeito
que O Nome da Rosa havia me causado lá pelos idos de 2006, quando li esse pela
primeira vez. Umberto Eco desde então é um dos meus escritores favoritos.
Nesse
meio tempo eu relia passagens e aqui e ali do livro, mas nunca uma releitura
propriamente dita. Quando me entreguei a esse projeto definitivamente foi com
muito prazer que me dei conta das coisas que comentei mais acima. Eu sentia o
mesmo encanto, o mesmo fascínio, dei as mesmas risadas. Mas tudo parecia maior,
tudo parecia mais vivo e mais diferentes olhares sobre a mesma cena.
O
exemplo mais claro que me vem a mente é O Rei de Amarelo, de Richard W.
Chambers. Alguns dos contos do livro se passam na Paris cercada pelas tropas
Prussianas, e posteriormente bombardeada pelas mesmas. Outros são na Paris
antes e disso e outros na Paris depois disso. Foi realmente incrível me dar
conta da forma como essa nova perspectiva deixou a leitura dos relatos
mirabolantes de Simone
Simonini ainda mais saborosos e vivazes.
Os
livros nos transformam. Eles nos moldam. Por muito tempo pensei que eu nunca
tinha mudado, que era basicamente o mesmo sujeito desde os 15/16 anos. Eu via
os meus amigos e colegas mudares, de opiniões, de idéias e de modos de vida, mas
eu me sentia sempre o mesmo. Mas de um tempo para cá me dei conta que mudei e
mudei muito. As coisas pelas quais eu passei me mudaram muito mais do que eu me
deixei reparar, e os livros que li no meio desse caminho ajudaram também. E os
que reli também. Cada vez é uma nova experiência, e essa experiência vai com
certeza mudar você.
Enfim,
passear outra vez por aquele cemitério soturno, de lápides tortas que se
amontoavam como um espinheiro, e ouvir os rabinos judaicos a conspirarem para
dominar o mundo, me foi uma experiência reveladora. E prazerosa demais. É
sempre muito bom reencontrar um bom amigo.
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