segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sexo e álcool

Dia desses vi um filme assaz curioso na tv. De fato, o nome eu nem lembro, mas a história do mesmo era tão clichê que o enredo é fácilmente lembrado: adolescentes querendo comprar bebida alcóolica para levar a uma festa, para que em troca disso supostamente conseguissem sexo. A típica comédia americana besta, que se apega em clichês muito verdadeiros sobre os adolescentes contemporâneos.

Vendo as cenas deprimentes de um cara gordo de filosofia absolutamente machista e que crê piamente que sexo é o único motivoda existência, fiquei pensando sobre o porquê de tanta gente achar isso.
Nos últimos tempos venho me descobrindo mais romântico do que poderia supôr, mas mesmo muito antes disso jamais consegueria me imaginar saindo à noite atrás de sexo. Mesmo na minha frieza racional, sempre considerei sexo (o do mundo real, não me venham com pornografia, por favor) como algo que deva envolver não simplesmente a atração carnal, a vontade de saciar a lascícvia e um mero objeto de prazer, mas sim um mínimo de sentimento; amor, que seja.
Não quero bancar o moralista, o defensor dos bons costumes e caçador de hereges, óbviamente que não. Mas tanta libertinagem, prazeres efêmeros, banalizações de coisas belas e verdadeiras, faz com que algo que expresse amor e sentimento de afeto se torne vazio, sem sentido, um simples desejo primitivo, escancarando de vez o lado irracional do ser humano.

E de fato o álcool é o instrumento mais difundido para a conquista sexual. Pessoalmente, creio que isso denote a inerente fraqueza humana, de inteligência, de caráter e de evolução. Convenhamos, precisando deixar a garota de porre pra conseguir transar com ela, é porque não se tem a mínima capacidade de o conseguir com a mesma sóbria.
Álcool dá confiança, solta, faz as vergonhas se apequenarem (mentiras tão doces...). Essas convicções que endeusam a bebida são mais opressoras que qualquer senhor de escravos. Não creio que se sinta livre e feliz quem não vive sem beber ou sem estar constante atrás de uma transa descompriomissada; tudo isso não passa da escravidão da libertinagem (Como já escrevi por aí, liberdade não é a mesma cisa que libertinagem).

Muita gente reclama da juventude de hoje, querendo dela os mesmo ideias revolucionários de décadas passadas. Mas se formos analisar, o que as gerações de jovens do passado conseguiram? O amor livre não prosperou depois dos anos 70, a Guerra do Vietnã não teve fim por causa dos protestos, os caras pintadas brasileiros foram uma farsa deslavada.... Ou seja, o que é um ideal revolucionário na verdade? Buscar o que seja do seu interesse? Mudar o mundo? Contruir uma sociedade melhor? Na minha opinião inútil, simplesmente é utopia.

Não consigo ver em Woodstock nada mais que uma enorme festa de libertinagem, onde tudo e absolutamente tudo é permitido. Esse marco criou toda uma geração de tolos utópicos, que propagam ideias impensáveis e que jamais serão concretas. Infelizmente o mundo tem regras, e liberdade sem limites é um problema, já que nos tornamos escravos de nossos impulsos. Limites e regras são fundamentais para a felicidade (isso soa à Kant, mas enfim).

Minha faceta de velho fala muito mais alto quanto a essa história toda. Sexo casual é uma coisa que decididamente não me entra na cabeça. Não sei se isso é por pragamatismo metódico ou doses de romantismo recém adquiridas, mas o que de fato é verdadeiro, é que toda a minha geração de contemporâneos me aparecem como um enorme pandemônio de ode ao álccol, à luxúria e aos prazeres efêmeros, em completa detração ao que poderia trazer algo infinitamente mais forte e duradoura: felicidade de verdade.

Ah, e fo fim do filme foi sensacional: a garota com a qual o gordo queria transar (que deu a festa e pediu pra comprar bebida) disse que não gostava de beber e que não queria nada com ele.
Em mente me surgiu um enorme: TOMA!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nada é eterno

Me deparei com estas palavras do poeta romano Ovídio, em seu livro Metamorfoses, e depois de divagar sobre o tema do post anterior, faço minhas suas palavras:

"Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só
apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um
movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não
tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do
fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da
noite... Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de
nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche
de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com
o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a
quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e
ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a
quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas
embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos
cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão
brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam
sempre e sem descanso... E também a Natureza não descansa e,
renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no
vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... Todos os seres
têm sua origem noutros seres. Existe uma ave a que os fenícios dão o
nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do
incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida,
constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de
canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e
termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix,
que viverá outros cinco séculos... Assim também é a Natureza e tudo oque nela existe e persiste."

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Vazio de Existir

Ao Fim De Tudo

Cidadão Quem

Composição: Duca Leindecker
 
 
Minhas lágrimas não caem mais,
Eu já me transformei em pó
E os meus gritos não se escutam mais
Estão na direção do Sol
Meu futuro não me assusta ou faz
Correr pra desprender o nó
Que me amarra a garganta e traz
O vazio de viver só...

Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo
Naquela canção,
que parece encontrar a razão
Mas que ao final se cala frente ao tempo que não para frente a nossa lucidez.


Decididamente o Duca Leindecker é o meu letrista favorito. Uso de novo uma letra sua como exemplo para uma ideia.
A primeira vez que eu ouvi essa música fiquei muito tempo refletindo sobra sua questão central. De certa forma senti meu estomago embrulhado, com uma enorme sensação de vazio. Pensar sobre a vida (frase esta num sentido muito menos retórico que o convencional) pode ser torturante, querer entender a razão de passarmos pelo mundo para simplesmente morrermos para depois de muitos anos sejamos esquecidos faz com que possamos nos achar reduzimos a simplesmente uma obra do acaso cósmico, da dança química dos aminoácidos e material genético.

Pode-se notar que não sou alguem apegado em religião, logo as "explicações" dadas por entidades religiosas para nossas existências mundanas não me satisfazem nem um pouco. Mas de qualquer forma, para muitas pessoas, essas respostas soam reconfortantes, como uma luz em meio a escuridão da falta de sentido de viver. E talvez seja esse "conforto" que não me satisfaça; parece simples demais, fácil demais, uma ideia demasiada mastigada. Uma verdade escondida, uma força superior que nos comanda, que se encarrega de nossos destinos. Não é algo que pareça concreto.

Mas pois bem, isso é um paradoxo. A ideia de resposta passa por algo que estaria supostamente escondido, de talvez algum motivo superior que esteja fora do alcance de nossas mentes arcaicas. Mas esses pressupostos eu nego na filosfia religiosa, como vazios e inconsistentes. Ao que parece, buscam-se verdades que não existem.
Mas como o homem é inquieto, e está sempre atrás de verdades, razões, motivos, a busca segue, incessante, interminável e que provavelmente nunca trará frutos que satisfaçam essa ânsia pela questão mais antiga que aflige os pensadores: "Qual o sentido da vida?"

Talvez a única resposta que se torne plausível seria a de que a razão da vida é ela própria. Faz sentido até, mas definitivamente não satisfaz.
Mas por outro lado, o verso da música que diz "Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo"
é absolutamente reveladora.
A vida pode ser boa, aproveitada de forma que possa ter valido a pena, mesmo não tendo o menor sentido. Então nós perdemos muitas coisas ao morrer, e seria ainda mais doloroso partir desse mundo se não conseguíssimos atingir o tal "motivo de viver", a perda seria ainda maior ao fim de tudo. Provavelmente a vida não necessite de uma razão específica de ser; talvez seja mesmo apenas um acaso, um resultado aleatório de fatores misturados ao longo das eras.

Então o que nos sobra para fazer? Ora, nada mais que viver. Procurar por respostas, mesmo que elas não existam, é uma sina humana, da qual jamais nos veremos livres. Mas tentando não levar isso tão a sério, não se torturando tanto, creio que se deva levar a vida até onde for possível, da melhor forma que der. A morte é inevitável, e sendo assim, seria interessante poder entregar-se em seus braços sem nenhum remorso da vida, com a sensação de a vida ter sido boa.

De fato, a vida tem tanto sentido quanto estas linhas. Ou seja: nenhum. 

NOTA:

Ando pensando demais em perguntas. Coisas da idade, provavelmente.

sábado, 4 de setembro de 2010

"E se...?"

Existem perguntas absolutamente pertubadoras. Já tinha escrito aqui que uma delas é "Quem é você?", talvez a mais complicada de responder e que causasse mais sufocamento e opressão.
Mas nos últimos dias (meses, dependendo do ponto de vista) venho me deparando com uma questão que seja tão opressora quanto: "E se..?". As reticências são um simples generalizador, já que existe uma especificidade que não vem ao caso comentar, e também porque para essa pergunta as especificidades são detalhes absolutamente pessoais.

Nossas escolhas podem ser cruéis; nem tanto pela opção em si, mas sim por causa da dúvida que elas nos provocam sobre como as coisas teriam acontecido se fossem feitas de modo diferente. E isso se enquadra em qualquer tipo de situação, em inúmeos campos da existência, mas causando uma sensação muito causticante.

Quero me ater num ponto mais concreto: o que se relacionada com a covardia.
No âmbito das escolhas pelo menos existe um amenizador, já que se teve a escolha, se tomou uma decisão que causou uma consequência; logo, não teve nadade covarde. Pode ter sido certo ou errado, resultou em bônus ou ônus, mas ao menos houve a personalidade de se tentar.
Mas quando o que impera é a covardia, o medo, a incerteza, a situação muda drasticamente de figura. A sensação de não ter TENTADO é torturante. E nisso, mesmo tentando ao máximo evitar, o "E se..?" surge amargo, cruciante e completamente pertubador.

É uma espécie de dor, num sentido menos intenso da palavra. Vem a tona todas fraquezas, as incertezas e medos se escancaram gritantemente, a auto-estima despenca e ideias depressivas se tornam companheiras corriqueiras. Levando em consideração as individualidades comuns aos seres humanos, as reações para esses sentimentos variam muito; existem aqueles que se consomem, que se culpam demais e acabam  perdendo a vida para suas incertezas. Há aqueles que conseguem de alguma forma mascarar, mas que estão se enganando. Alguns se culpam, se deprimem e se acham completos idiotas, mas que de alguma forma tentam seguir em frente, encarando a amargura das dúvidas com uma espécie de aprendizado.
Eu tento ao máximo me enquadrar neste último tipo.

Nos últimos meses minha vida vem se resumindo a empilhar frustrações, angústias, remorsos e essas dúvidas recorrentas da covardia, e exatamente por isso tento encarar cada rasteira que levo de minhas escolhas como uma lição, uma aprendizado a ser levado para a vida. Entrego minhas horas de insônia diárias a refletir sobre essas coisas, me deixando consumir, me culpando enormemente, isentando qualquer outra pessoa de responsabilidades por tantos fracassos além de mim mesmo. Tudo isso é factual e inegável, mas eu acabaria realmente louco se não tivesse um mínimo de confiança que isso tudo serve como prova, para que quando a maturidade chegar de fato, eu consiga ser um homem melhor que esta adolescente tão diferente dos outros (que tem os mesmo problemas dos demais, só que refletidos em outros espelhos), cheio de remendos no espírito.

O jeito é tentar seguir o conselho que o Angra nos dá em Carry On:

"So, carry on,
There's a meaning to life
Which someday we may find...
Carry on, it's time to forget
The remains from the past, to carry on"