quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pirralho reacionário

Inicialmente pensei em inserir o que se segue no post anterior. Mas achei mais interessante dedicar um unicamente a uma ideia que me ocorreu por esses dias, que diz respeito à forma como este alienado ser vê o universo controverso a sua volta.

Muito bem, pulei a adolescência. Cheguei a essa conclusão depois de tanto observar meus contemporâneos e tentar entender o porquê de eu ser tão antagonicamente diferente destes. Tenho 18 anos, e nunca fiz nem metade do que meus amigos de 16 já fizeram. Vamos por partes: Nunca tomei um porre; nunca fui numa balada; os termos "pegar" e "ficar" são absurdamente abstratos e complexos para minha mente primitiva; as regras de comportamento quando o assunto são garotas parecem leis jurídicas do século XI escritas em latim num pergaminho. Em fim, um mundo à parte que não compreendo.

Não sei se estou certo, mas vejo a juventude atual completamente promiscua. Relacionamentos são efervescentes, começam e acabam num piscar de olhos, sem medos, sem culpas e sem nenhum perspectiva sobre futuro. Tudo é banalizado, o que interessa é o agora, o prazer e o falso sentimento  de realização que entregar-se às vontades dá.
O que se defende com unhas e dentes é a liberdade. Muitos argumentos se apoiam no que diz respeito aos tempos de pais e avós, onde haviam normas rígidas e respeito imposto à força, dizendo que atualmente o mundo não é mais assim, que a sociedade atual não pode mais seguir esse padrão de comportamento. No meu ponto de vista isso é um engano profundo, já que essa tão ferrenhamente defendida liberdade é falsa, mentirosa, uma doce ilusão da qual se faz a maior questão de seguir.
Se confunde liberdade com libertinagem, que são conceitos infinitamente distantes e distintos. Se entregar aos vícios da existência, satisfazer cegamente todas as vontades, não é ser livre. Ser livre é estar solto de todas as amarras, de correntes invisíveis que te obrigam a seguir caminhos e ter atitudes que fazem mal, que te subjugam, que te reduzem a ser um simples boneco nas mãos dos vícios. Um libertino é um escravo de si mesmo; um escravo que se sente obrigado a aproveitar tudo, da forma mais intesna que se possa ter, mesmo que para isso ele termine por acabar consigo mesmo.

Eu não quero que isso tudo soe como um manifesto moralista de extrema-direita defensor da moral e dos bons costumes. Não sou hipócrita a esse ponto. Moralismo é perda de tempo, assim como qualquer mortal dessa terra maldita tenho um caminhão de defeitos nas costas, e não sou nínguem para sair dando conselhos. Mas também não sou completamente idiota e cego, posso muito bem observar e meditar sem ser um direitista remoendo um passado rígido que nunca teve. Mas mesmo assim acabo me sentindo um velho ranzinza à vezes, que tem um receio imenso da "modernidade" e dos rumos que os jovens vem seguindo.

Pais não entendem filhos e vice-versa. É assim desde que o mundo é mundo, inegavelmente. Os jovens tem uma característica que atravessou gerações: o ideial que terão um futuro completamente diferente dos que vieram antes deles.
Bem, na teoria isso é uma maravilha. O ímpeto jovem de revolucionar o mundo até certo ponto funciona, no que diz respeito à avanços tecnológicos e afins; mas o que de fato interessa aos jovens, o estilo de vida, os ideias, os pensamentos a filosofia de existência, isso é um assunto mais complexo.
A vida é cruel. Muito. Mas nessa nossa idade, com hormônios em combustão constante, com a sede de prazer a mil por hora, essa crueldade é translúcida, parece apenas uma miragem. As reclamações dos pais sobre como as contas vem caras e de como comprar comida ficou mais caro parecem coisas distantes, que não nos preocupam ainda. AINDA. Essa é a palavra chave. Mais cedo ou mais tarde essas responsabilidades mundanas vão cair sobre nossos ombros. Seremos adultos responsáveis, se não por uma família, no mínimo por nós mesmos. E então a ilusão da vida se desfaz. As cortinas caem e sai de cena a alegria a libertinagem, dando lugar as durezas de se manter num mundo de selvageria, onde se manter vivo e com alguma dignidade custa muito, muito mesmo.

É um choque. Um verdadeiro tapa na cara. Toda uma idealização se vai por água abaixo.
E quando isso acontece, temos duas possibilidades mais concretas:

PRIMEIRA: Ser alguem triste, chato, resignado com a decadência e que então entende tudo que os seus pais diziam;

SEGUNDA: Insistir na ilusão. Se enganar continuando com farras, libertinagens e entregando-se aos prazeres mundanos achando-se sem culpas. Pois bem, achando-se, tentando provar a si mesmo que não há culpas para ter. Mas o que acaba se tornando uma tarefa ingrata e complicada, já que um caminhão de culpas se amontoa na consciência.

Possivelmente exista uma terceira possibilidade: encarar as cretinices da vida com algum senso de humor. Nãose deseperar. Olhar todas as encrencas que viver implica, resolve-las e ainda rir de tudo, sabendo que existem coisas piores no mundo e que por menos interessante que seja, a vida é muito boa. Como eu tentei nunca ter ilusões românticas sobre a vida, sem me deixar enganar por comodidades passageiras, acho que vou conseguir trilhar esse caminho.

Vejam bem, tudo isso não pode ser tratado como verdades. Em hipótese alguma . São pontos de vistas que tenho a partir de muita observação do pequeno universo que me circunda. Cheguei a essas ideias vendo como os jovens de 20 e poucos anos agem, e tentando me lembrar de como eram uns 10 anos atrás. E constatei essas impressões.
Logo, são exemplos do meu ambiente, que não podem ser aplicados como via de regra. Mas mesmo assim, de alguma forma acredito que isso possa se aplicar (em graduações bastantes distintas) nas pessoas em geral, pois indo um pouco além, analisando coisas vistas em meios de comunicação, tenho a sensação de estar vendo um filme repetido....

Mas em fim, qual experiência de vida tem um moleque de ridículos 18 anos, que passou maior parte da vida enfiado em meio à livros e fantasiando coisas absurdas, para tecer tais comentarios? Claro que nenhuma. Pode soar arrogância da minha parte, mas creio que eu tenha um tipo de mentalidade diferente da média dos meus conteporâneos. Não melhor nem maior, apenas diferente. Sou um sujeito frio, analista e que tem algo parecido com medo de sentementalismos; e por isso, tenho a impressão que essa mente doentia consiga desenvolver ideias que mais parecem de um quarentão deprimido e sem fé num futuro melhor.

Talvez eu sem querer tenha criado ao reacionismo juvenil. Sim, isso é idiota, mas tem um ligeiro quê de fundamento.
Acabo sim sendo um reacionário. Mas um reacionário paradoxalmente de mente aberta....