domingo, 6 de março de 2011

Hedonismo carnavalesco

Bem, não é difícil de imaginar que eu seja do tipo de sujeito que não vai muito com a cara do Carnaval.

Pontualmente, não tenho nada contra o fato das pessoas se divertirem durante esses dias de foolguedo e adjacências; as pessoas são livros para fazerem o que melhor acharem, e se  isso as faz sentir-se bem, que o seja. O que realmente me chama a atenção nestes festejos tão caracteristicamente brasileiros (que factualemte ocorrem pelo mundo todo, mas que são mais acentuados em nossas terras tropicais, é o hedonismo ensandecido, que é de certa forma intrínseco à cultura popular e ainda por cima vendido intensamente pela mídia.

Historicamente o que se convenciona chamar de Carnaval surgiu pelos idos medievais, em certos dias do ano onde as rígidas e tiranas leis clericais eram afrouxadas, deixando o povo solto e com total liberdade de festejarem ao seu bel prazer.
Sabendo o quão era reprimida aquela sociedade, pode-se supôr a quantidade absurda de insanidades que ocorriam nesses dias festivos, onde todos os impulsos enclausurados pelas leis morais e religiosas eram expulsos sob a forma do mais completo pandemônio.
E nos séculos que se seguiram a situação não mudou muito profundamente. Se analisarmos o "formato" do Carnaval contemporâneo, onde a ideia principal fica em torno das escolas de samba, dos blocos de rua, trios elétricos e afins, o que vemos é a quebra absoluta dos padrões que são geralmente tidos por morais. A nudez é permitida, a promiscuidade é bem vista, os abusos e excessos são o objetivo principal. E a dignidade, bem, fica hibernando até a quarta feira de cinzas.

E assim como na Idade Média, nós brasileiros do século XXI vivemos numa sociedade absolutamente opressora. Bem menos explicitamente, diga-se a verdade, mas que sufoca tanto quanto. Somos um país de ideologia retrógrada, repletos de preconceitos e falso-moralismo. Veem-se com maus olhos negros, homosexuais, nordestinos, as classes baixas e vários outros alvos de hipocrisia.
Mas vejamos só, no tão amado Carnaval se veem homens vestidos de mulher, pessoas brancas pintadas de preto, sulistas trajando-se de nordestinos ou fazendo graça com as manias dos pobres e favelados. Por que tudo isso não poderia ser aceito no ano inteiro e não somente em 4 ou 5 dias desvairados em meio ao causticante calor dos trópicos?
Sinceramente, acredito que se veste de mulher no Carnaval é porque gosta disso e não tem coragem de fazer isso ao longo do ano por causa da dura repressão da sociedade em geral com relação a isso.

Não sou da filosofia do hedonismo. Não, não mesmo. Não que eu ache que ter prazer e se divertir esteja errado, muito pelo contrário, é algo fundamental pra ter uma vida saudável. Minha implicância é com os excessos. Seja excesso de bebida, de sexo descompromissado, má alimentação, barbaridades no trânsito ou qualquer outra decorrência do hedonismo sem limite que se vê nessa época do ano.
 Já disse uma vez que considero limites importantes. Não digo se submeter a tirania ou virar um eremita asceta,  mas apenas ter o bom senso de saber quando parar, para que o divertimento possa ser prazeroso sem se tornar apenas uma ressaca desprovida de boas lembranças no dia seguinte.

Enfim, essa conversa furada não adianta patavinas, e por isso paro por aqui. De qualquer forma, desejo um bom Carnaval pra quem estiver lendo este emaranhado de bobagens ;)