segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Releituras #1 - O Cemitério de Praga



            Reler os seus livros favoritos de tempos em tempos é sempre uma aventura fascinante. Um livro sempre vai ter muito mais coisa para contar na segunda vez que você o ler, ou na terceira, ou na quarta, por aí vai. E principalmente: você vai ter lido outros livros nesse meio tempo. 

            A leitura constante é um exercício que ajuda muito a agregar conhecimentos. Dos mais banais e tolos até os mais complexos e profundos. Qualquer livro que você for ler vai te deixar alguma coisa, algum conhecimento, algo que você lembrar eventualmente em alguma situação, mesmo que o tal do livro seja bem ruim ou raso. Leitura sempre agrega, seja do tipo que for. 

            Então, quando a pessoa pega algum dos seus livros favoritos na estante depois de muito tempo, ela vai ter mais conhecimentos, vai ser uma pessoa diferente, e com certeza há de pescar pequenos detalhes novos e fascinantes naquelas histórias que já havia conquistado tanto tempo antes. 

            Parei para pensar nisso enquanto relia O Cemitério de Praga algumas semanas atrás. Eu ando sem grana para comprar livros novos, e também bastante inquieto e perturbado por uma série de motivos, e acabei me voltando em busca de conforto aos meus velhos amigos que estavam juntando poeira na estante. 

            Li o livro pela primeira vez em 2012. Lembro muito bem das horas e mais horas que ele me deixou absorto, e completamente mergulhado na leitura. O mesmo efeito que O Nome da Rosa havia me causado lá pelos idos de 2006, quando li esse pela primeira vez. Umberto Eco desde então é um dos meus escritores favoritos. 

            Nesse meio tempo eu relia passagens e aqui e ali do livro, mas nunca uma releitura propriamente dita. Quando me entreguei a esse projeto definitivamente foi com muito prazer que me dei conta das coisas que comentei mais acima. Eu sentia o mesmo encanto, o mesmo fascínio, dei as mesmas risadas. Mas tudo parecia maior, tudo parecia mais vivo e mais diferentes olhares sobre a mesma cena. 

            O exemplo mais claro que me vem a mente é O Rei de Amarelo, de Richard W. Chambers. Alguns dos contos do livro se passam na Paris cercada pelas tropas Prussianas, e posteriormente bombardeada pelas mesmas. Outros são na Paris antes e disso e outros na Paris depois disso. Foi realmente incrível me dar conta da forma como essa nova perspectiva deixou a leitura dos relatos mirabolantes de Simone Simonini ainda mais saborosos e vivazes.

            Os livros nos transformam. Eles nos moldam. Por muito tempo pensei que eu nunca tinha mudado, que era basicamente o mesmo sujeito desde os 15/16 anos. Eu via os meus amigos e colegas mudares, de opiniões, de idéias e de modos de vida, mas eu me sentia sempre o mesmo. Mas de um tempo para cá me dei conta que mudei e mudei muito. As coisas pelas quais eu passei me mudaram muito mais do que eu me deixei reparar, e os livros que li no meio desse caminho ajudaram também. E os que reli também. Cada vez é uma nova experiência, e essa experiência vai com certeza mudar você. 

            Enfim, passear outra vez por aquele cemitério soturno, de lápides tortas que se amontoavam como um espinheiro, e ouvir os rabinos judaicos a conspirarem para dominar o mundo, me foi uma experiência reveladora. E prazerosa demais. É sempre muito bom reencontrar um bom amigo.