terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ver com mais do que apenas os olhos



            Eu gostaria de ser contista. Dos bons, como Tchekov e sua infinidade de fragmentos de cotidiano, ou James Joyce e suas cenas dublinenses. Daqueles, que com uma história simples e pacata conseguem extrair a mais genuína essência do ser humano, desnudar medos, angústias, amores e alegrias. Mesquinharias e generosidades, melancolias ou euforias. As pequenas coisas que nos definem como humanos. 

            Mas ser contista deve ser uma tarefa complicada. Não é algo tão simples tirar o extraordinário do ordinário, ver algo a mais onde a maioria das pessoas enxerga apenas a vida cotidiana se desenrolar em uma forma fluída e sem muitas surpresas. É preciso um olho aguçado, uma percepção que vai além do óbvio, e o principal de tudo: conhecer pessoas. 

            “Ninguém é uma Ilha”, diz o título de um livro muito bom do austríaco Johannes Mario Simmel. E o contista precisa levar isso muito a sério. Ele deve se envolver com as pessoas que o cercam, além de buscar conhecer novas pessoas a todo o momento. Aprofundar-se em seus sentimentos, ir além da cama superficial da etiqueta social do dia-a-dia. Tirar a máscara que cada um de nós usa, com delicadeza, com cuidado, e ver o que há escondido do outro lado. 

            Tudo isso é demais para alguém como eu, que não tem lá muita ideia de como se relacionar com as pessoas. Mas, por sorte, existem aqueles que sabem, e muito bem, como fazer isso, e nos presenteiam com suas pequenas e reveladoras histórias.