Eu
gostaria de ser contista. Dos bons, como Tchekov e sua infinidade de fragmentos
de cotidiano, ou James Joyce e suas cenas dublinenses. Daqueles, que com uma
história simples e pacata conseguem extrair a mais genuína essência do ser
humano, desnudar medos, angústias, amores e alegrias. Mesquinharias e generosidades,
melancolias ou euforias. As pequenas coisas que nos definem como humanos.
Mas
ser contista deve ser uma tarefa complicada. Não é algo tão simples tirar o
extraordinário do ordinário, ver algo a mais onde a maioria das pessoas enxerga
apenas a vida cotidiana se desenrolar em uma forma fluída e sem muitas
surpresas. É preciso um olho aguçado, uma percepção que vai além do óbvio, e o
principal de tudo: conhecer pessoas.
“Ninguém
é uma Ilha”, diz o título de um livro muito bom do austríaco Johannes Mario
Simmel. E o contista precisa levar isso muito a sério. Ele deve se envolver com
as pessoas que o cercam, além de buscar conhecer novas pessoas a todo o
momento. Aprofundar-se em seus sentimentos, ir além da cama superficial da
etiqueta social do dia-a-dia. Tirar a máscara que cada um de nós usa, com
delicadeza, com cuidado, e ver o que há escondido do outro lado.
Tudo
isso é demais para alguém como eu, que não tem lá muita ideia de como se
relacionar com as pessoas. Mas, por sorte, existem aqueles que sabem, e muito
bem, como fazer isso, e nos presenteiam com suas pequenas e reveladoras histórias.