terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Shakespeare e o covarde

Pequena inserção cretina na célebre questão shakespeariana imortalizada na voz enlouquecida do sanguinário príncipe Hamlet: "Ser ou não ser um perfeito covarde? Eis a questão."

De fato essa foi uma heresia imperdoável para com o o grande e sábio dramaturgo britânico. Mas tomei essa abusada liberdade poética (?) tão somente para abordar um tema que tem me tomado um tempo relativamente grande de sessões inútei de meditação e análise: covardia.
O motivo que me leva a escrever sobre isso no momento é irrisório, mesmo algumas pessoas sabendo do que se trata; mas de qualquer jeito, não interessa.

Medo e covardia são conceito bastante distintos um do outro. O medo fez com que a humanidade prosperasse sobre a terra, já que o medo de ser devorado por bestas selvagens fez com que os homens pré-históricos não saíssem de noite de suas cavernas. Medo é primitivo, instintivo, vai além do mero entendimento filosófico ou intelectual. Mas a nossa tão cotidiana covardia é algo mais complexo, que se embrenha no mais íntimo dos compatimentos do intelecto que unicamente os humanos desenvolveram. Óbviamente que uma coisa está ligada a outra, de forma bastante inerente e alguns caso quase que onirica. Um covarde sem medo seria um paradoxo dos mais peculiares.

Mas podemos imaginar que a covardia mundana, que não é a mesma coisa que o medo primitivo e natural, se apoie em fraquezas. Fraquezas ideológicas, morais, espirituais e afins. Somos todos fracos, uns mais outros menos.E é esse nível de fraqueza que compõe nosso cosciente de covardia.
Não vou considerar covardia como medinho de fazer alguma coisa; isso seria frívolo demais. Prefiro imensamente mais imaginar a covarida do relacionamento interpessoal, tanto em ordem física (leia-se violência) quanto de falar e ser. Portanto, gostaria de me ater um pouco na coisa mais difícl para todo o ser humano: lidar com o próximo.

Egoísmo é o carro-chefe da existência, inegavelmente. E Infelizmente, todos os discursos de amor fraternal, disponibilidade ao próximo, desprendimento e humanismo são balela (Salvo rarísimas excessões). Portanto, é mais fácil se isolar no próprio mundo, lidando somente consigo mesmo (E quantas vezes isso é feito de modo errado...) e deixando de lado esse tal de "próximo". E eis que aí reside muito da covardia. Somos covardes uns com os outros, não chegamos a ser ruins ou de mau caráter, somente covardes de se abrir ou ao menos ceder, deixando de lado o EU e caminhar pelos campos desconhecidos dos outros.
Digo tudo isso por experiêcia própria. Não tenho como negar que sou um perfeito egoísta em muitos momentos, e a desconfiança de ir em frente com algum tipo de compartilhamento de sentimentos soou atemorizante e absurdamente perigoso, e me fez trancar diante de oportunidades impressionantes, caracterizando-se como incomensurável covardia.

Creio que este amontoado de ideias soe bastante confuso e razoavelmente sem nexo. De forma inconsciente creio que tenho sido essa minha ideia inicial, já que é mais ou menos assim que me sinto ultimamente.
Mas embromar não adianta nada, e por isso deixo a palavra para aquele que deu título a este confuso escrito:


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."
William Shakespeare.