segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Aborto

Realmente uma questão muito delicada, que envolve questões morias, éticas e vidas.
Nos últimos meses muito se comentou sobre esse tema, sendo ele usado como arma de persuasão eleitoral; levando muito mais para o lado da hipocrisia religiosa e conceitos ultrapassados do que para a lucidez e a forma como o mundo contemporâneo funciona.

Eu pessoalmente não acho que o aborto seja a melhor saída para uma gravidez indesejada, e portanto não sou favorável ao ato em si que consiste o aborto. Mas por outro lado, sou sim, e muito, favorável pela discrminalização dele. É uma bobagem enorme querer criminalizar a prática abortiva, já que sendo proíbido ou não, a mulher que estiver decidida a faze-lo (Ou mesmo quem obrigue ela a isso) vai fazer, indo atrás das famosas clínicas clandestinas (Aliás, semânticamente o termo 'clandestina' é desnecessário, já que sendo uma prática ilegal, todas são), pondo suas próprias vidas em risco. Além de tirar o direito de viver de uma criança, óbviamente.

Porém, é preciso às vezes colocar-se na posição de quem pensa em abortar. Talvez tão injusto quanto tirar o direito da vida de uma criança, seja despeja-la numa vida miserável, num mundo que não dá oportunidades justas e iguais, onde existe preconceito e segregação de todos os tipos. Com certeza que uma mulher aborta com uma dor enorme no peito, mas talvez para ela, isso seja melhor que não conseguir dar uma vida digna ao seu filho. Claro que esse não é o argumento dos mais concretos e válidos, já que exisitriam outras possibilidades de tal criança ter uma vida melhor, como a adoção, por exemplo; só que em muitos casos a desinformação e a ineficiência das instituições públicas que cuidam disso acabam levando mulheres desperadas a recorrem a esse método.

Acaba sendo muito mais uma questão de saúde pública, já que é possível imaginar quais são as condições das clínicas que fazem abortos. Sujas, mal equipadas, infectas, pondo em risco a vida da mãe também. Com a descriminalização e a criação de uma legislação que regulamente a prática do aborto, o risco para as mães despencaria, obrigando as clínicas a seguirem um padrão de limpeza, higiene e profissionalismo.
Seria melhor assim, mas há um porém nisso. De certa forma há o pensamento: "Em vez de morrerem dois morre um só". Infelizmente essa é a realidade do Brasil, onde apenas se remedia, nunca se previne.

Muito antes de se preocupar sobre aborto, os governantes deveriam se engajar em campanhas massivas de conscientização. E muito além do hipócrita sentido religioso da valorização da vida, que valoriza a reprodução como algo demasido importante, e que parece ignorar toda a quantidade de necessidades que ter filhos implica.
Já disse e não me incomodo em repetir: não sou moralista nem nada, mas vejo o mundo libertino demais. As pessoas fazem o que querem sem se preocupar com as consequências de seus atos. Falta cosnciência, responsabilidade. No dia que o simples ato de usar preservativo numa transa for compreendido e virar algo normal e corriqueiro, já teremos dado um passo gigantesco para acabar com essa conversa toda de aborto.

A vida é o nosso bem mais valioso, e pessoalmente acho errado privar outros seres humanos dela. Mas como existe livre árbítrio e cada um que se entenda com sua consicência mais tarde, precisamos encarar o aborto com mais lucidez e racionalidade do que a partir de dogmas pré-moldados por religiosos, pois a vida é muito mais complexa do que simplesmente viver.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Perspectivas





Baixei o disco que tem essa música mais ou menos um ano e meio atrás. Sempre foi a minha preferida do disco, mas não gostava muito da letra, que me soava forçada na época. Porém com o passar do tempo fui mudando de opinião acerca de dela.

Desde dezembro do ano passado venho lidando com alguns sentimentos que até então me eram absolutamente obscuros, e que sempre me faziam ter profunda desconfiança de textos e letras de músicas em tom afetivo, sobre amor, relacionamentos e afins.
De certa forma foi algo chocante para mim me ver começando a entender o que aqueles autores sentiam e pensavam sobre as coisas que escreviam. Me dei conta de que racionalismo e sentimentos não são coisas que conseguem conviver em harmonia, já que tudo o que se passou na minha cabeça durante esses últimos meses me deixou confuso, perturbado e muito mais neurótico do que de costume já era.

Mas essa música em especial se tornou reveladora definitivamente para mim há apenas algum tempo, depois de descobrir uma coisa que sacudiu de vez com todas as minhas convicções, com o que eu achava sobre mim mesmo; e num momento em que eu estava completamente mergulhado numa depressão corrosiva por causa do meu fracasso mais amargo.
Bem, dizer abertamente o que foi creio não ser certo e nem necessário, já que é algo que não compete só a mim, envolvendo outras questões de outras pessoas, cujas quais eu respeito.

E confabulando sobre isso tudo hoje pela manhã, fiquei pensando sobre perspectivas e pontos de vista. Eu tinha uma perspectiva sobre sentimentos completamente diferente há um ano atrás, me baseando apenas nas minhas meditações pessoais e observações do mundo que me circundava, mas sem ter alguma experiência concreta que me fizesse comprovar essas ideias. E no momento que essa experiência aconteceu, se é que posso chamar o que se passou disso, lenta e gradativa, me obriguei a rever todos os meus conceitos, pensar melhor minha condição emotiva. Tentando não soar piegas, eu acredito que acabei achando uma parte de mim que passou quase toda a minha vida escondida num canto escuro do meu ser.
Então chego na conclusão de que a verdade pessoal de alguem (não uma verdade universal e inquestionável, mas sim algo que essa pessoa acredite e confie piamente) depende do seu ponto de vista, suas ideias e sua vivência, sendo essas características inerentes umas as outras.

Uma pessoa não vai poder mudar de ideia sobre alguma convicção sem que vivencie algum fato que o faça refletir sobre suas crenças, seja sobre alguma coisa ou sobre si mesmo. Eu aprendi isso da pior forma, e ainda aliado com todas as minhas angustias e incertezas, acabou me proporcioandno tempos bem complicados.
Sim, tempos complicados, mas que eu não iria quer apagar da minha vida. Tento ao máximo entender a maioria das coisas difíceis que me acontecem como formas de evoluir como ser humano, e todas as perturbações pelas quais passei (e ainda passo, não vou mentir) aos poucos me fazendoa entender melhor a vida, e me mostrando caminhos melhores a seguir. Claro que muitas vezes ( maioria delas, eu diria) fico pra baixo tem a certeza que vou fracassar em tudo na vida, que sou um fraco sem correção e que nunca vou poder me considerar "um homem de verdade". E eu de fato não sei o que vai ser de mim no futuro.

Mas apesar dos fracassos anunciados não vou deixar de tentar, e vou na onda do Dream Theater na bela música 'Learning to Live' do clássico "Images and Words:"

"I'm learning to live
I won't give up
'Till I've no more to give"








Bônus: confiram o post novo da minha amiga Vânia
no Tem espaço na Van
Tá bem legal!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os Servos de Deus

Volta e meia estou eu aqui criticando religião. Mas assim como critico, preciso prestar respeito a exemplos verdadeiros de boa fé e bons sentimentos para com quem consegue fazer algo realmente concreto dos ensinamentos de alguma religião.
Nas linhas a seguir quero comentar sobre um dos livros mais belos e sensíveis que eu já tive a oportunidade de ler: "Os servos de Deus" da autora anglo-americana Taylor Caldwell.

O livro começa com uma mulher contando ao seu marido sobre uma noite de sua infância na casa de sua avó, que oferecia um jantar a onze sacerdotes (católicos, anglicanos, presbiterianos e afins). E em meio a esse jantar, os sacerdotes contam suas histórias; e nisso gira toda a ideia do livro.
São todas histórias de superação, redenção, preconceitos, de amor ao próximo, de como os preceitos cristãos podem ser aplicados sem distorções, sem mesquinharias e que ainda podemos ter esperança (mesmo que eu considera esta última algo bem complicado em alguns casos, mas isso é uma outra história que não vem ao caso).

Histórias singelas, em paisagens britânicas melancólicas, perdidas nas entranhas cinzas daquelas terras; de homens verdadeiros, que mesmo com todos os seus defeitos, empecilhos, barreiras, dificuldades e medos são capazes de fazer o possível e o impossível (literalmente) para ajudar quem precisa.
O que mais me tocou nessas histórias, é a completa falta de apologia a essa ou aquela religião. Em momento algum se tenta convencer o leitor a seguir alguma doutrina, de que religião X é a correta e Y é a errada. Não, muito pelo contrário.

Uma das histórias mais marcantes é a talvez mais curta, e que se não estiver enganado, se chamava "O Gueto". Num trem estavam um padre católico e  um pastor presbiteriano, discutindo amigavelmente sobre suas doutrinas. Nisso entra um tipo que ambos consideram muito estranho, de barba longa, que não conseguia falar direito inglês e tentava atrapalhadamente pedir informações a eles. Existem mais alguns detalhes no decorrer do causo sobre o homem falando sobre Deus que infelizmente eu não consigo me recordar. Porém o desfecho tenho em mente como se tivesse lido aquilo ontem a noite: quando o homem estranho desce do trem os outros dois ficam a falar mal deste, dizendo que aquele que mais parecia um mendigo não poderia saber nada sobre Deus. Porém, logo eles descobriram que o estranho homem que não sabia falar inglês era na verdade um  importante rabino, logo, um homem de Deus assim como eles.

O livro não promete nada. Não é revelador, cheio de verdades contundentes ou vai mudar radicalmente sua vida. Não, não mesmo. São apenas história de fé, e como a fé pode fazer coisas incríveis, independentemente de qual religião você segue (ou não). Best-Seller's do tipo "A Cabana" podem ser bons livros até, mas são megalomaníacos, exagerados, e que querem forçar o leitor a seguir alguma coisa como se esta fosse a grande e misteriosa verdade da vida. Porém, estes jamais terão a sensibilidade e a profundidade de histórias de homes e mulheres de verdade, de carne e osso, que choram e tem medo como os quais cruzamos nas ruas todos os dias (digo isso na questão de como lidar com a vida, as angustias mais profundas, os medos mais primários, já que não seria certo comparar nossa sociedade com a onde essas histórias se passaram).

Enfim, tento nunca generalizar quando faço críticas a instituições religiosas, e sempre lembro desse livro nisso. As pessoas do mundo real, do dia-a-dia, longe dos grandes, ricos e luxuosos centros religiosos podem dar os exemplos mais reais de como ser um cristão, por menores que sejam, sem brilho nem fama, mas que de fato são as coisas que poderiam mudar o mundo.

Eu diria que trata-se um leitura obrigatória para quem é leitor mais seletivo e não se deixa impressionar com histórias mirabolantes sobre Deus.



Taylor Caldwell

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Caixinha mágica

A televisão decididamente não para de me surpreender com suas vasta gama de inútilidades.
Ontem em mais um corriqueiro momento de insônia me vejo diante ao aparelho acompanhando o Jornal da Globo. Na volta de um intervalo a apresentadora começa dizendo algo mais ou menos assim: "Depois da eleição de Dilma Roussef, a primeira mulher a vencer uma eleição para presidente no Brasil, ficou uma dúvida no ar que deixa muitas pessoas curiosas: se diz 'a presidente' ou 'a presidenta'?". Na sequência passou uma reportangem com opiniões de populares, professor de português e até o nosso velho amigo dicionário foi chamado para sanar tão primordial questão meta-linguística.

Tendo visto isso me perguntei o que diabos isso interessa para o futuro da nação?

É verdade que o nosso belo português é absurdamente mal tratado por todos os lados, e que os meios de comunicação tem por dever passar algo cultural, que enriqueça o intelecto de seus telespectadores, e gramática podia ser sim algo muito útil. Mas a forma como essa informação foi passada, com um argumento tão estúpido, vazio, parecendo que estavam chamando quem via de idiota.
Talvez eu esteja sendo exagerado, admito, mas realmente tal demonstração de falta de interesse de passar alguma informação realmente importante me deixou devéras descontente.

A industria televisa é um negócio altamente lucrativo. Mexer com massas, moldar seus pensametos, suas personalidades pode trazer um retorno fincanceiro enorme, além aliena-las para crerem que isso ou aquilo é o correto por que eles dizem, não por ser uma conclusão cuja na qual o indíviduo chegou após PENSAR. Pensar. Essa é a apalvra chave.
Até algumas décadas atrás o principal meio de comunicação era o rádio, com seus pomposos musicias, noticiários grandiosos, novelas apenas narradas e várias outras coisas. Tendo apenas o som, as pessoas eram obrigadas a imaginar as cenas descritas, usar sua imaginação, botar o cérebro para funcionar no intuíto de obter algo mais que simplsmente a informação passada. Mas com o advento da televisão nos anos 50 essa relação mudou. Onde havia uma ideia "moldável" passada pelo rádio onde o ouvinte deveria completa-la com a imaginação, passa a haver um produto pronto, enlatado e de fácil consumo dado pela televisão.
A junção de imagem e som com temas fúteis e vagos de gosto das massas pouco intruídas (espero que isso não soe preconceituoso, que não é o caso) foi o maior alienador do século passado. Tudo ficou fácil, acessível, era apenas absorver o que dito e mostrado, não era mais necessário pensar para obter alguma conclusão, já que eles eram nos dadas já prontas.

Realmente me assusto quando me deparo com algumas coisas. Um exemplo recente: terça-feira agora, no intervalo de um jogo de basquete que assistia, fiquei zapeando os canais, e no sensacional programa Superpop da PHD em física astro-química Lucinana Gimenez estavam duas funkeiras, uma atriz pornô, um pastor adventista, um padre e um "comentarista" de televisão discutindo eleições e a validade da pornografia como arte. A cena me pareceu no mínimo escatológica. Fiquei observando aquilo por alguns minutos, sentindo meus poucos neurônio irem derretendo de tantos absurdos ditos.
Não consigo entender como alguem consiga assistir àquilo e achar bom.

E o nteressante é que dois canais acima é a TV Escola, que no momento passava um documentário sobre literatura brasileira bastante interessante. Me dá desgosto ver canais tão bons como a Tv Escola, Futura, Tv Brasil, Cultura serem simplsmente ignorados por uma parcela muito grande da sociedade.
Já perdi as contas de quantos filmes maravilhosos vi na Sessão Cine Conhecimento do Futura, quantos documentários incríveis da Tv Escola, quantas entrevistas reveladoras no Roda Viva da Cultura e por aí vai...
E enquanto isso pessoas ouvem funk e discutem se pornografia é arte.

Provavelmente não seja só interesse das corporações midiática, mas também governos (uso o plural, já que não acuso apenas um, mas todos) acham melhor que o povo seja ignorante e alienado, para serem mais facilmente enganados, iludidos e explorados para seus fins gananciosos.

E além de toda essa questão prática, a teoria que ocorre na cerne pessoal, na mente, no íntimo, também me faz crer que a Tv seja um mal. Muitas vezes me pego pensando que o meu pior defeito é pensar demais, e que a porta para ser feliz é a alienação. Sou um deprimido neurótico que não para de pensar um minuto. Mas sinceramente, acho melhor ser assim, cheio de complexos e corroído por dúvidas cruéis, mas que enxerga com os próprios olhos e que usa a própria cabeça, do que ser um fantoche tolo e feliz nas mãos de seres baixos, mesquinhos e que sustentam um sistema pútrido e decadente que se tornou a civilização humana, esquecendo que existe um mundo gigantesco ao seu redor.

A magia desta caixa é um feitiço perigoso, que pode a qualquer momento uma maldição muito pior do que não ser "feliz".

E faço meu o conselho daquele canal musical em seus tempos áureos (que jazem num passado distante):