terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os Servos de Deus

Volta e meia estou eu aqui criticando religião. Mas assim como critico, preciso prestar respeito a exemplos verdadeiros de boa fé e bons sentimentos para com quem consegue fazer algo realmente concreto dos ensinamentos de alguma religião.
Nas linhas a seguir quero comentar sobre um dos livros mais belos e sensíveis que eu já tive a oportunidade de ler: "Os servos de Deus" da autora anglo-americana Taylor Caldwell.

O livro começa com uma mulher contando ao seu marido sobre uma noite de sua infância na casa de sua avó, que oferecia um jantar a onze sacerdotes (católicos, anglicanos, presbiterianos e afins). E em meio a esse jantar, os sacerdotes contam suas histórias; e nisso gira toda a ideia do livro.
São todas histórias de superação, redenção, preconceitos, de amor ao próximo, de como os preceitos cristãos podem ser aplicados sem distorções, sem mesquinharias e que ainda podemos ter esperança (mesmo que eu considera esta última algo bem complicado em alguns casos, mas isso é uma outra história que não vem ao caso).

Histórias singelas, em paisagens britânicas melancólicas, perdidas nas entranhas cinzas daquelas terras; de homens verdadeiros, que mesmo com todos os seus defeitos, empecilhos, barreiras, dificuldades e medos são capazes de fazer o possível e o impossível (literalmente) para ajudar quem precisa.
O que mais me tocou nessas histórias, é a completa falta de apologia a essa ou aquela religião. Em momento algum se tenta convencer o leitor a seguir alguma doutrina, de que religião X é a correta e Y é a errada. Não, muito pelo contrário.

Uma das histórias mais marcantes é a talvez mais curta, e que se não estiver enganado, se chamava "O Gueto". Num trem estavam um padre católico e  um pastor presbiteriano, discutindo amigavelmente sobre suas doutrinas. Nisso entra um tipo que ambos consideram muito estranho, de barba longa, que não conseguia falar direito inglês e tentava atrapalhadamente pedir informações a eles. Existem mais alguns detalhes no decorrer do causo sobre o homem falando sobre Deus que infelizmente eu não consigo me recordar. Porém o desfecho tenho em mente como se tivesse lido aquilo ontem a noite: quando o homem estranho desce do trem os outros dois ficam a falar mal deste, dizendo que aquele que mais parecia um mendigo não poderia saber nada sobre Deus. Porém, logo eles descobriram que o estranho homem que não sabia falar inglês era na verdade um  importante rabino, logo, um homem de Deus assim como eles.

O livro não promete nada. Não é revelador, cheio de verdades contundentes ou vai mudar radicalmente sua vida. Não, não mesmo. São apenas história de fé, e como a fé pode fazer coisas incríveis, independentemente de qual religião você segue (ou não). Best-Seller's do tipo "A Cabana" podem ser bons livros até, mas são megalomaníacos, exagerados, e que querem forçar o leitor a seguir alguma coisa como se esta fosse a grande e misteriosa verdade da vida. Porém, estes jamais terão a sensibilidade e a profundidade de histórias de homes e mulheres de verdade, de carne e osso, que choram e tem medo como os quais cruzamos nas ruas todos os dias (digo isso na questão de como lidar com a vida, as angustias mais profundas, os medos mais primários, já que não seria certo comparar nossa sociedade com a onde essas histórias se passaram).

Enfim, tento nunca generalizar quando faço críticas a instituições religiosas, e sempre lembro desse livro nisso. As pessoas do mundo real, do dia-a-dia, longe dos grandes, ricos e luxuosos centros religiosos podem dar os exemplos mais reais de como ser um cristão, por menores que sejam, sem brilho nem fama, mas que de fato são as coisas que poderiam mudar o mundo.

Eu diria que trata-se um leitura obrigatória para quem é leitor mais seletivo e não se deixa impressionar com histórias mirabolantes sobre Deus.



Taylor Caldwell

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