domingo, 15 de novembro de 2009

Um mundo de cegos

Bem, tenho me aproveitado descaradamente de trabalhos escolares para atualizar isto. Pode parece até falta de criatividade instantânea para escrever algo absolutamente novo, exclusivo para este espaço; mas não é não, são apenas circunstâncias.


Mas vamos aos fatos, abaixo vai uma análise sobre o Livro "Ensaio sobre a Cegueira", do autor português laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 José Saramago, que tive que fazer para uma aula de literatura.








A relação do tema de “Ensaio sobre a Cegueira” com a situação do mundo moderno



Com certeza absoluta, “Ensaio sobre a Cegueira” é a obra-prima incontestável do escritor português José Saramago. Antes deste lançamento já havia traçado uma carreira sólida e recheada de polêmicas e sucessos editoriais. Porém, com este seu peculiar ensaio, atingiu o ápice de sensibilidade humana, indo muito fundo em questões que na maioria das vezes não queremos nos dar conta.
Este livro traz uma narração perturbadora, intrigante e que lança o leitor em meio a uma situação de caos absoluto, onde todas as regras sociais foram esquecidas e o instinto de sobrevivência é a única coisa que persevera. A tal cegueira branca, uma espécie de cortina leitosa que se derrama sobre as pessoas tirando-lhes a visão, de certa forma é um artifício do autor para levar o ser humano a sua substância mais primitiva, instintiva, reduzindo-o ao menor nível de lucidez que fosse possível. A insanidade da situação de não enxergar e estar enjaulado num mundo à parte onde precisa fazer atrocidades para ficar vivo, leva o leitor a refletir sobre o que é de fato enxergar.



As pessoas do mundo contemporâneo enxergam, mas não veem, não reparam. De alguma maneira, todos acabamos sendo uma grande bando de cegos que enxergam, presos em nossas próprias ideologias falhas e sem nenhum sentido, seguindo apenas o que outras pessoas afirmam estar correto. Somos cegos de pensamentos, não temos nenhuma luz do saber próprio, vivemos em alienação política, social e de pensamento, sendo reféns de convicções que sequer sabemos porque temos.



Toda a metáfora idealizada por Saramago redunda na completa cegueira em que vivemos; cada detalhe tem alguma relação com o mundo real, com as pessoas que de fato tem história, passado ou sonhos quanto ao futuro. Portanto, a ideia de usar pessoas sem nome, sem história, não é uma excentricidade do autor, mas sim uma forma de descompromissar aquelas pessoas pelo que acontece com elas, já que logo teríamos a seguinte ideia: "O que será que ele fez no seu passado para ser assim castigado?”. E também para fazer o leitor perceber que nem o mais puro e digno dos cidadãos está livre da insanidade devastadora desta curiosa cegueira social que aflige o mundo de hoje. Podemos ser todos, todos mesmo, vítima delas.



Pois bem, certamente que essa ideia de cegueira coletiva não aconteceria de fato. Trata-se tão somente de uma metáfora, um meio ilustrativo para demonstrar o quanto o homem pode ir baixo na luta pela sobrevivência. Uma maneira de fazer reparar que o homem apesar do intelecto evoluído, está muito mais próximo do irracional do que pode imaginar.



Mas apesar de todo o absurdo caos da história, das situações degradantes que os personagens passam, do terror, do medo, do pânico que tudo isso causa, após o martírio pode haver redenção. Tão sem motivo como chega, a cegueira se vai, restituindo a dádiva de enxergar àqueles pobres coitados. Tanto os maus quanto os bons voltam a ver, dando-se conta do cataclismo com suas proporções reais que foi toda essa experiência completamente assustadora.



Em suma, “Ensaio sobre a Cegueira” é uma grande alusão ao que homem faz consigo mesmo, com o mundo e com seus semelhantes; um retrato obtuso e surrealista da falta de sentido que é civilização ocidental do século XX (Já XXI, no nosso caso).



Façamos como diz o Livro dos Conselhos:
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”









Caso alguém se interesse em ler esta obra-prima da literatura em língua portuguesa, segue um link de download:








E se alguém puder adquirir o livro físico, pode faze-lo tranquilamente, porque vale muito a pena.
















sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Uma tarefa de Ensino Religioso

O texto a seguir foi um trabalho de Ensino Religioso. Nossa professora leu algumas matérias sobre pedofilia na Jordânia e a Mutilação Genital Feminina na África.




"Mutilações, pedofilia e tradições machistas sem sentido

Definitivamente o mundo não para de me surpreender. De fato já tinha tido ouvido falar vagamente destes temas, principalmente em programas de televisão ou documentários; porém tudo muito superficial, e que não entrava a fundo no cerne da questão. Mas nessa última aula quando ouvimos com uma riqueza absurdamente grande de detalhes histórias a respeito de pedofilia aceitada socialmente e a mutilação genital feminina, me senti caindo num vácuo de nojo e revolta, indo então fundo mesmo nessa conturbada cultura humana que se desmembra em tantas ramificações distintas. Além da revolta e do nojo, veio junto uma sensação pesada de pasmo, de incredulidade, de não conseguir acreditar que alguem fosse realmente capaz de fazer monstruosidades tão grandes contra seus semelhantes.

São costumes, defenderão-se eles. Mas que diabos de costumes são esses? Costumes que beneficiam tão somente o sexo masculino, que teria então o direito de ter uma esposa criança ou de uma esposa mutilada que proporcionaria-lhe mais prazer enquanto que esta não sente absolutamente nada de bom, tão somente a dor, a amargura e a tristeza de uma vida tão ruim. Tudo acaba se resumindo em machismo, a dita sábia cultura milenar não passa de uma invenção do homem, verdadeiramente mais forte fisicamente que as mulheres, para que pudesse satisfazer seus desejos mais baixos apoiados por uma lei irrevogável e inquestionável, herdada por antepassados e que por obrigação cultural deve ser mantida e perpetuada.

Eu não posso ir contra a cultura, em hipótese alguma, seria uma erro crasso e primário, idiota e que não levaria em consideração grandes feitos positivos da humanidade. O que me revolta são os costumes criados por interesse, por mesquinharia. O ser humano não faz por merecer o intelecto que desenvolveu ao longo das eras, pois se fizesse o uso adequado de suas faculdades mentais, jamais se rebaixaria a esse tipo de brutalidade que seria aceitável num animal que existe unicamente e exclusivamente seguindo seus instintos primários. O intelecto deveria levar a níveis altíssimos de consciência e humanismo; mas nunca foi isso que aconteceu, pois o raciocínio foi deturpado cretinamente, empurrado por caminhos tortuosos iniciados em conclusões errôneas. E talvez uma dessas conclusões infelizes tenha se dado no momento em que o homem descobriu que poderia ter prazer tirando proveito de outros semelhantes. E após isso, se deu uma interminável linha de abusos, violência e irracionalidades.

E uma outra coisa que me deixa pessoalmente entristecido, é ter a certeza de que nada disso irá mudar. Tantos os casamentos de homens adultos com meninas de não mais de onze anos, tanto a mutilação genital feminina, tem o aval tanto sócio-cultural quanto político. Esses ideais de dominação masculina estão tão enraizados na mentalidade destes povos, que nunca irá passar por suas cabeças a possibilidade tudo isso ser criminoso, atroz e bárbaro.

De certa forma, o abuso acabou se tornando uma instituição humana. O símbolo da virilidade, do macho dominador e da mão pesada que pune as transgressões. Foi através dele que povos ascenderam e caíram, sociedades tiveram apogeus e momentos de trevas, e a civilização se constituiu em cima de um único e irrefutável ideal, que não muda nas mais distintas culturas: O de que os homem é superior e merce todos os prazeres que quiser, enquanto que a mulher não passa de um animal um pouco mais desenvolvido que os demais e que deve zelar e cuidar dos assuntos domésticos e satisfazer seu homem.

Essas leis milenares não estão contidas em nenhum código ou constituição, mas fazem parte de uma legislação muda e apócrifa, que se sucede sem escancaramentos há muitas e muitas gerações. E exatamente por isso que esses casos tão extremos do oriente deixam nós ocidentais embasbacados de maneira tão profunda; pois tratamos mal nossas mulheres de um modo tão menos cruel, que uma barbárie dessas soa tão calamitosa. Bem, acredito nunca ter escrito uma frase tão estranha em toda minha curta vida como essa última, pois de fato é estranha, mas não deixa de ser verdade por causa disso: O homem ocidental também domina, tiraniza e diminui o valor da mulher, porém em níveis menos gritantes e absurdos. E ainda mais que nas últimas décadas a mulher do ocidente conseguiu grandes vitórias em vários campos da sociedade. Só que isso é um outro tema, e não cabe aqui.

Ora pois, divagar e divagar não vai levar nínguem para qualquer lugar. Empilhar palavras e ideias não vai mudar em nada a situação enquanto se permanecer mudo diante de tantas atrocidades. E como eu não posso fazer mais nada do que simplesmente falar, me calo por aqui, esperando que em algum dia, alguem que realmente possa fazer algo, comece a mudar essa situação. "
Sobre casamentos pedófilos no mundo islâmico:
Sobre Mutilação Genital Feminina:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutila%C3%A7%C3%A3o_genital_feminina (Se procurarem fotos, vão achar imagens muito fortes.)
São questão delicadas, mas que pelo menos para mim causaram muita revolta.