sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os ideais dos outros

Esses dias vi um ótimo filme sobre os últimos meses de vida do mestre da literatura mundial Leon Tosltói, chamado "A Última Estação". Não é um filme brilhante, definitivo ou revolucionário, é bem simples até, sem muita pomposidade e afins, mas tocante, profundamente humano e verdadeiro.

Como já disse,o filme narra os últimos meses de vida de Tolstói, dando bastante enfoque em toda a doutrina que ele desenvolveu já na velhice, apregoando o amor ao próximo, o desapego aos bens materias cumulativos, a igualdade e a valorização da vida como o maior dos presentes de Deus. De fato, Tolstói sim pensou nestes belos ensinamentos, porém seus seguidores, os chamados "tolstoianos", achavam que ele era um santo, imaculado e livre de qualquer imundice mundana, de certa forma distorcendo o que mestre ensinara. Dessa forma, se tornam inflexíveis, obrigando os demais seguidores a seguirem rigidamente o "modelo" de vida idealizado pelo mestre, mesmo que isso causa angústia, temor e infelicidade. Ao longo do filme se vê a faceta absolutamente humana e mundana de Tolstói, sob o ponto de vista de um jovem secretário, e se entende com a maioria das doutrinas acaba sendo deturpada por seus seguidores.

Ao final do filme fiquei pensando em quantos exemplos não temos de coisas assim, onde doutrinas muito bem intencionadas acabam sendo modeladas por interesses meaquinhos. Peguemos por exemplo o comunismo idealizado por Karl Marx: na teoria, uma maravilha, onde existe igualdade e não existe necessidade. Mas o que houve na prática em todos os países que adotaram o comunismo? Ditadura, violência, repressão, dor, medo e as camadas mais pobres ainda sofrendo dos mesmos males de antes.
O ser humano tem essa curiosa capacidade de fazer uma coisa boa se tornar algo horrível. Interesses baixos, mesquinharias, fanatismo, cegueira e intolerância fazem com que as melhores ideias sejam usadas como artifícios para se obter vantagens sobre quem já explorado. Temos aí uma igreja que faz isso com  maestria há uns 2000 anos....

Ser humano em geral é sádico e cruel, e não se importa em explorar os mais fracos. Na maioria das vezes que faz isso são os tolos  iletrados, que foram privados do direito de obter o conhecimento que os faria serem pessoas mais honestas e justas. Mas muito pior que isso, mas muito mesmo, são os letrados, versados em artes e ciências, que mesmo com todo o lastro cultural que possuem continuam sendo mesquinhos, baixos e cruéis, usando-se do conhecimento para subjugar. E são esses os que mais infamemente distorcem ideais, quase sempre deixando o idealizador profundamente decepcionado e sentindo-se mal.

Infelizmente bons ideais não funcionam e não levam a lugar nenhum. No mundo, desde sempre, é preciso saber usar artimanhas da política para se obter algo útil de governantes e gerentes, justo estes que por obrigação deveriam fazer o melhor possível pelo bem da sociedade sem se usar de maquinações e jogos de interesse.
A revolução, se que algo desse tipo possa realmente acontecer, jamais seria numa batalha épica e heróica que mudaria o rumo das coisas da noite para o dia. A mudança há de ser lenta e gradual, com a conscientização vindo aos poucos, de geração em geração, nos pequenos atos do dia-a-dia; na educação, na divulgação ampla e plena do conhecimento, sem barreiras, sem interesses ocultos, sem manipulações de massas.

Não vai ser uma pessoa com uma ideia genial na cabeça que vai mudar o mundo. Isso é utopia. Todos nós, juntos, é que vamos.