sábado, 15 de agosto de 2009

O mestre dos marionetes


Sim, isso é Metallica. The Master of Puppets é uma música interessante. Mas para falar bem a verdade nem sei que diabos fala a letra, nunca parei para prestar atenção nem procura-la. O que me interessa de fato é a gama de possibilidades que um título desses pode proporcionar.


Marionete são figuras interesantíssimas. Que por meio da escravidão ganham vida. Essa é uma afirmação às vezes perturbadora, já que a escravidão é uma coisa que não se parece nem um pouco com qualquer sinônimo de vida. A escravidão reduz, humilha, faz desprezar e odiar. Mostra poder, força, submissão e terror. Um marionete é apenas um escravo da vontade alheia, dos interesses, de uma mente que tem planos. Sua vida não passa dos momentos em que é útil. E sempre que o espetáculo termina é mergulhado no mar da morte fictícia no qual ficam os seres inanimados. Deve ser uma existência muito triste a de um marionete, que alegra e encanta uns durante umas poucas horas, mas que não passa de um mero objeto nas mãos gananciosas (ou sofredoras, é preciso também ser visto por esse lado) de quem o apenas vê sendo somente um meio de faturar.

Seja um boneco de madeira ou seja uma pessoa, marionetes se veem por todos os cantos. São tão comuns que até mesmo podem nos passar completamente desapercebidos, isso quando nós mesmo não passamos de bonecos escravizados por terceiros. É verdade sim, muitas, muitas vezes são manipulados friamente por pulsos alheios que se aproveitam de nós. E quase sempre nínguem repara nisso. A escravidão de ser manipulado passa intermitentemente pela ilusão. A voz macia, sedutora, que promete os céus e a terra. Deparamo-nos mais uma vez com as intrínsecas fraquezas humanas. A ilusão é tão doce, com um sabor viciante, que mesmo depois de esmigalhada pela dura e crua realidade se mantêm firme, tornando-se uma necessidade doentia, de fuga do mundo físico. Por isso que é fácil ser tapeado, ser manipulado através dos fios invisíveis do sentimentalismo frio, cínico e mentiroso.

Pouquíssimas pessoas, ou quase nenhuma, conseguem se livrar por completo das tentações das ilusões escravagistas, que se tornam artifícios de outros para suscitar seus interesses (baixos ou não). E a probabilidade de que estas pessoas que manipulem outras também terem sido usadas de forma baixa e inescrupulosa é sensivelmente grande. Nisso, delinea-se uma tênue rede de fios, todos interligados, onde uns controlam e são controlados, formando o cenário e o elenco da triste comédia humana.

Mas nesse intrincada rede sempre haverá um Mestre. O Mestre de todos os marionetes. Ele é invisível, onipresente, onisciente e onipotente. Deus? Claro que não! Deus estaria muito além dessa mera dominação. O Mestre, então, é só um ideal, que os homens alimentaram durante todas as suas eras. Um tipo de cultura, de herança do trabalho, do raciocínio e do pensar. Da descoberta do prazer, de se dar conta que poderia se dar bem em cima dos outros. De certa forma, paradoxalmente, esse Mestre seria o próprio homem. Uma incoerência enorme, diga-se de passagem. Tentando corrigi-la, ou ao menos ameniza-la, é bem possível pensarmos então que o Mestre seja uma criação do homem. O homem é escravo de si mesmo, do seu modo de existir.

A peça continua, sem nunca parar. E um dia os marionetes adormecerão no esquecimento.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Alegre Melancolia Existencialista





Essa imagem ai do lado é a capa de um disco muito bom.O Opeth é uma banda de Death Metal Progressivo (ou Extreme Progressive, tanto faz), oriunda da Suécia, e figura no hall das minhas bandas preferidas. Este Blackwater Park é quase consensulamente a obra prima deles, e expressa com maestria um tipo de sentimento que levo muito em consideração: a melancolia.


Há alguns dias atrás me deparo cm um programa de TV onde uma sensitiva analisava vídeos sobre fantasmas. Em certo ponto, ela disse que uma pessoa melancólica,que é triste tem muita propenção a se tornar alvo de espíritos mal intencionados. Bem, depois de ouvir, fiquei imaginando o que deveria então fazer com meus discos de Doom Metal e Death progressivo. Obviamente não fiz absolutamente nada e deixem onde eles estavam (No PC, nesse caso). Assisti aquilo como um maravilhoso espetaculo de humor involuntário.


Não que eu tenha tendências suicidas, melancolia crônica ou prazer pela tristeza. Não, não, muito pelo contrário até. Mas como qualquer pessoa normal, preciso de momentos melancólicos, tristes, sombrios, soturnos e de solidão. A alegria em tempo integral não é totalmente uma problema, mas dependendo de como se lida com isso é bem provável que se acabe mergulhando num profundo mar de controvérsias pessoais. Se uma pessoa é feliz o tempo inteiro, está se enganando. Um humano não tem apenas um sentimento, não se limita a sentir tudo exatamente da mesma forma, em hipótese alguma. Somos um emaranhado de sentimentos que se entrelaçam no que se desenha como nossa personalidade. Tudo isso varia de formas abissais de indivíduo para indivíduo, e portanto a forma de encarar a melancolia é estritamente pessoal.

A felicidade extrema faz com que nos afastemos de nós mesmos. Quando somos felizes por completo, não o fazemos para nós mesmos, mas para mostrar aos outros. Seguindo essa linha, nínguem mostrar para os demais os seus podres, logo fecha os olhos para eles e os ignora. Só que ignorar não tem o mesmo significado de extirpar; as coisas ruins continuaram ali, num canto qualquer escondidas pela sombra do esquecimento. Ali, elas vão fermentar, espalhar influências silenciosas por todo o canto, em nuvens discretas, pairando sorrateiras pelos caminhos do espírito. Uma hora ou outra isso explode. E o pior, é que em vários casos isso não se externa. Um mar de ressentimentos inunda o âmago do ser, que se vê encurralado pelo sua imagem ideal e a verdadeira. A todo custo tenta se manter como quer, lutando contra inimigos invisíveis, mas que tem um poder devastador.

O fim disso eu não sei, outra coisa (só mais uma das incontáveis) que sempre, por toda a eternidade, vai variar. A loucura e a morte podem ficar a um passo uma da outra.

Exatamente por isso que a melancolia é uma parceira das mais confiáveis. Ouvi não sei de quem a seguinte frase: "A felicidade é efêmera, enquanto a melancolia é eterna" . Gostei dessa frase. Me faz muito sentido. A felicidade, a alegria são coisas tão frágeis que podem se perder com a maior das facilidades Enquanto a velha tristeza é sólida como um monolito.

Não, eu não vivo num mundo de trevas, de remorsos, sofrimentos. Isso seria burrice. O que eu penso, é que é muito fácil conciliar as duas coisas. Lidar com a tristeza é o meio de se manter equilibrado, e estando equilibrado, ciente de si mesmo, conhecedor dos próprios meandros, as felicidades virão. Também irão, inevitavelmente, mas de qualquer modo se estará pronto para abraçar novos contentamentos. Simples assim.

O lado obscuro do mundo. Quase todas as sociedades e culturas apregoam esse ideal de ambiguidade, de bem e mal, luz e sombra, vida e morte. E todos, sim, todos, tem razão. A existência é uma gigantesca ambiguidade, de contrapontos, de dualidades. Dia e noite, sol e lua, vida e morte, homem e mulher, alegria e tristeza, ignorância e sabedoria e uma infinidade de situações que se antagonizam eternamente.

Temos tudo isso dentro de nós. Temos a luz e a sombra, o bem e o mal; não há nínguem puro ou imune. Somos todos feitos da mesma carne, padecemos dos mesmo medos e dúvidas, temos potencialidades e defeitos semelhantes. Não há porque não ser triste e também não há porque não ser alegre.

Pessoalmente gosto do pequeno detalhe daquela capa em que se veem sombras, vultos, no meio de uma floresta escura, a frente de um lago. Creio ser uma analogia. A floresta escura é o próprio interior de cada um, o lago seria uma passagem para outros mundos, um portal turbulento e de difícil trato, e os vultos, os nossos fantasmas. Tenho uma quase convicção de que isso seja apenas uma alucinação de minha mente, mas essa alucinação me faz sentido.

A sombra existe para o sol, e vice-versa. Depois da noite vem o nascer do sol.

E também nínguem é triste para sempre.