sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Vazio de Existir

Ao Fim De Tudo

Cidadão Quem

Composição: Duca Leindecker
 
 
Minhas lágrimas não caem mais,
Eu já me transformei em pó
E os meus gritos não se escutam mais
Estão na direção do Sol
Meu futuro não me assusta ou faz
Correr pra desprender o nó
Que me amarra a garganta e traz
O vazio de viver só...

Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo
Naquela canção,
que parece encontrar a razão
Mas que ao final se cala frente ao tempo que não para frente a nossa lucidez.


Decididamente o Duca Leindecker é o meu letrista favorito. Uso de novo uma letra sua como exemplo para uma ideia.
A primeira vez que eu ouvi essa música fiquei muito tempo refletindo sobra sua questão central. De certa forma senti meu estomago embrulhado, com uma enorme sensação de vazio. Pensar sobre a vida (frase esta num sentido muito menos retórico que o convencional) pode ser torturante, querer entender a razão de passarmos pelo mundo para simplesmente morrermos para depois de muitos anos sejamos esquecidos faz com que possamos nos achar reduzimos a simplesmente uma obra do acaso cósmico, da dança química dos aminoácidos e material genético.

Pode-se notar que não sou alguem apegado em religião, logo as "explicações" dadas por entidades religiosas para nossas existências mundanas não me satisfazem nem um pouco. Mas de qualquer forma, para muitas pessoas, essas respostas soam reconfortantes, como uma luz em meio a escuridão da falta de sentido de viver. E talvez seja esse "conforto" que não me satisfaça; parece simples demais, fácil demais, uma ideia demasiada mastigada. Uma verdade escondida, uma força superior que nos comanda, que se encarrega de nossos destinos. Não é algo que pareça concreto.

Mas pois bem, isso é um paradoxo. A ideia de resposta passa por algo que estaria supostamente escondido, de talvez algum motivo superior que esteja fora do alcance de nossas mentes arcaicas. Mas esses pressupostos eu nego na filosfia religiosa, como vazios e inconsistentes. Ao que parece, buscam-se verdades que não existem.
Mas como o homem é inquieto, e está sempre atrás de verdades, razões, motivos, a busca segue, incessante, interminável e que provavelmente nunca trará frutos que satisfaçam essa ânsia pela questão mais antiga que aflige os pensadores: "Qual o sentido da vida?"

Talvez a única resposta que se torne plausível seria a de que a razão da vida é ela própria. Faz sentido até, mas definitivamente não satisfaz.
Mas por outro lado, o verso da música que diz "Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo"
é absolutamente reveladora.
A vida pode ser boa, aproveitada de forma que possa ter valido a pena, mesmo não tendo o menor sentido. Então nós perdemos muitas coisas ao morrer, e seria ainda mais doloroso partir desse mundo se não conseguíssimos atingir o tal "motivo de viver", a perda seria ainda maior ao fim de tudo. Provavelmente a vida não necessite de uma razão específica de ser; talvez seja mesmo apenas um acaso, um resultado aleatório de fatores misturados ao longo das eras.

Então o que nos sobra para fazer? Ora, nada mais que viver. Procurar por respostas, mesmo que elas não existam, é uma sina humana, da qual jamais nos veremos livres. Mas tentando não levar isso tão a sério, não se torturando tanto, creio que se deva levar a vida até onde for possível, da melhor forma que der. A morte é inevitável, e sendo assim, seria interessante poder entregar-se em seus braços sem nenhum remorso da vida, com a sensação de a vida ter sido boa.

De fato, a vida tem tanto sentido quanto estas linhas. Ou seja: nenhum. 

NOTA:

Ando pensando demais em perguntas. Coisas da idade, provavelmente.

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