terça-feira, 21 de julho de 2015

O Mundo de Gelo e Fogo (E Outros Pitacos)



            Eu fico extremamente nervoso quando leio as seguintes palavras: “George RR Martin perdeu o interesse em As Crônicas de Gelo e Fogo.”
            Mas muito nervoso mesmo. Isso só evidencia algo de que eu tenho certeza faz muito tempo, algo que denota a preguiça intelectual de muita gente. As pessoas têm visão curta. Curtíssima, parecem que não conseguem enxergar um palmo a sua frente o ou um pouco mais a fundo do que o parágrafo de um livro ou uma cena de uma série de tv. Enxergam apenas a superfície, a casca e a embalagem, mas poucas vezes reconhecem a proposta e o valor do que está realmente dentro, escondido no fundo de várias camadas.
            As Crônicas de Gelo e Fogo é uma obra que transcende a fantasia, é drama na sua forma sua mais genuína: é conflito. Conflito entre pessoas, entre interesses, sentimentos, e o mais importante de tudo, é o coração humano em conflito consigo mesmo, parafraseando William Faulkner. E não existe exemplo melhor disso o que os dois últimos livros, que muita gente considera chatos. Eu não vou me alongar nisso, afinal não é a proposta desse texto, então recomendo a leitura dos ensaios desse site https://meereeneseblot.wordpress.com/essays/ onde o autor disseca os principais arcos de Festim/Dança de forma surpreendente, fazendo com que até mesmo eu, que já tinha adorado esse estágio da saga, tenha uma visão completamente nova e revigorada da história.
            Algum tempo atrás eu escrevi um texto a respeito do conto The Princess and the Queen, e comentei que ele era prova o suficiente para mim de que o George continua sim muito interessado na sua obra. E agora, algum tempo após terminar de ler O Mundo de Gelo e Fogo e muito meditar, não me restam mais quaisquer dúvidas. George RR Martin continua se entregando de corpo e alma a essa história.
            Com a ajuda dos seus fiéis escudeiros, Linda e Elio do westeros.org (o melhor site relacionado a saga, recomendo demais), George criou uma das obras complementares mais fantásticas que eu já vi. Sinceramente. Eu corro o perigo de soar apenas como um fanboy que surta com qualquer coisa do seu universo favorito (e talvez eu seja isso mesmo), mas a questão é que esse livro não é qualquer coisa.
            Antes de continuar é preciso dizer que existem algumas falhas aqui e ali, incoerências e inconsistências, além de alguns problemas de tradução na versão brasileira, mas absolutamente nada que comprometa o valor e relevância da obra. De certa forma, poderia ser usado o argumento de que a culpa é das informações desencontradas nos registros do meistre que escreveu o livro (não é um argumento de verdade, mas fica a gracinha).
            O trabalho dos ilustradores é nada menos que sublime. Dezenas de artistas talentosos que encheram o livro com imagens maravilhosas e encantadoras, realmente de ficar de boca aberta.
            A quantidade de informação é surreal. De todos os lados e direções (inclusive com pequenos fragmentos de informações despretensiosas mas intrigantes, que alguém poderia associar com eventos do passado da história, do presente e talvez até mesmo do futuro). Em especial na história das grandes casas e dos reinos, das cidades livres e das terras ao leste e, o que pessoalmente me chamou mais a atenção e me deixou fascinado, um relato aprofundado da dinastia Targaryen, desde Aegon o Conquistador até o Rei Louco Aerys e a Rebelião de Robert. Simplesmente fantástico. Uma quantidade absurda informações que poderia ser ainda maior se não tivessem que cortar partes para evitar que o livro ficasse grande demais.
            Agora você aí que numa dessas estiver lendo isso me responda: alguém que precisa editar material que escreveu porque ficou grande demais é alguém que perdeu interesse? Alguém desmotivado e que escreve por obrigação?
            No texto que eu falei ontem sobre The Princess and the Queen, eu também tinha comentado sobre como essas outras histórias ampliam ainda mais o universo, como elas o tornam ainda mais colorido, palpável e fascinante. E agora com O Mundo de Gelo e Fogo esse universo se eleva a toda uma nova categoria de realismo que se funde com a fantasia e misticismo, cheio de vida e vigor, encantador e assustador.
            Então é o seguinte: não me venham com esse papo furado de perda de interesse. As provas de que isso é bobagem estão aí pra quem quiser apertar um tantinho os olhos e olhar além do próprio umbigo.

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