quinta-feira, 11 de junho de 2015

Paradise Lost - The Plague Witihin



            Não existe jornada que seja feita em linha reta. Você começa em algum lugar, tendo claramente em vista o seu objetivo. Durante algum tempo você segue nesse caminho, determinado a chegar ou lá. Mas não demora muito e você logo se depara com uma curva, com uma ladeira íngreme para cima ou para baixo, alguma enorme montanha onde você precisa decidir se escala ou dá a volta ao redor, um rio, um lago ou o próprio mar. São obstáculos, barreiras, impedimentos. Mas você continua. Sempre vai, afinal a vida é uma grande jornada que só termina no nosso último suspiro. 

            Quando começa a sua própria jornada, você tem as suas convicções, suas certezas e suas ambições. Os primeiros passos são decididos, firmes e inabaláveis. Então chegam os obstáculos. Você é obrigado a parar e pensar: o que é melhor fazer aqui e agora? As certezas esmorecem, os passos titubeiam e as dúvidas crescem passo após passo. Esses obstáculos fazem você mudar, não necessariamente para melhor ou para pior, apenas mudar. Amadurecer, talvez, ou talvez não. Mas você vai mudar, o tempo todo, mesmo que você nem note ou não queria admitir. A vida é assim, uma metamorfose constante, ora brusca ora sutil, mas que está sempre ali. A jornada transforma você.
            Isso é a vida, mas o exemplo também serve para se analisar a carreira de algum artista. Escritores, pintores, músicos, ou seja lá o que for. A inquietude é uma constante de qualquer um que queria elevar o seu trabalho a algo maior que o senso comum.
            Eu senti a necessidade de toda essa introdução pseudo-filosófica pra começar a falar do disco novo do Paradise Lost, este fantástico The Plague Within, porque olhando em retrospectiva, a carreira destes pioneiros do Gothic Metal britânico foi uma jornada daquelas. Com muito mais curvas, montanhas e rios do que se possa achar normal. Um caminho tortuoso, uma montanha russa. E The Plague Within é o resultado disso.
            Eu pessoalmente acho um pouco exagerados os comentários quase eufóricos de algumas pessoas dizendo que a banda voltou aos “bons tempos, às raízes”, que eles quiserem se reaproximar do que haviam feito no final dos anos 80 com os seus dois primeiros discos. Isso tudo me soa como uma intensa necessidade se reafirmar toda a conversa mole de metal de verdade é isso ou aquilo, que antigamente era melhor e blá blá blá.
É um disco fenomenal, não me entendam mal, adorei cada segundo dele e de sua proposta, mas eu entendo que ele é a evolução natural do que a banda vem fazendo desde Faith Divides Us Death Unites Us (2009): o peso e a distorção com generosas doses de melodia. Porém, com The Plague Within, nessa mistura é acrescida um “Death Metal Edge”, como a banda comentou em várias entrevistas desde o fim do ano passado. E é justamente isso, tudo um pouco mais lento e em tons mais baixos e soturnos, com os vocais do Nick alternando entre a voz limpa e a voz mais “rasgada” que poderia ser chamado de gutural com alguma boa vontade (que eu adoro também, diga-se).
Está tudo ali, em faixas como No Hope in Sight, Victim of the Past e Cry Out, absurdamente pesadas e com riffs mórbidos que parem ter vindo diretamente do auge dos anos 90. Mas que também contam com a melodia característica do Paradise Lost século XXI.
Já outras faixas são realmente pancadas muito mais focadas no Death Metal Edge, como Flesh From Bone, Sacrifice the Flame e Terminal, onde a banda consegue achar de forma brilhante o espírito daqueles discos antigos, trabalhando ele em algo novo e cheio de vida e vigor, fugindo da comodidade de simplesmente se repetir.
Mas o que o disco oferece de mais impactante, na minha modesta opinião, é o resultado das faixas que transitam sem muito comprometimento com uma coisa ou outra. Beneath Broken Earth é um hino monolítico de dar inveja a QUALQUER banda de Doom Metal que aposta no estilo desde que ele surgiu. Lenta, suja e claustrofóbica, uma daquelas músicas que parecem um buraco negro que suga toda a alegria e cor do mundo (desculpem, eu exagero).
Punishment Through Time começa e termina com riffs que são algo como um enorme gancho que se prende no meu peito e me levantam e depois me jogam para baixo outra vez (desculpem de novo). No meio temos uma música enérgica, com flertes de modernismo e uma atuação espetacular de Nick Holmes.
An Eternity of Lies é a faixa mais “””alternativa””” do disco, por assim dizer. Tem toda uma atmosfera diferente, como uma espécie de segunda voz quase fantasmagórica que surge no refrão, que me faz pensar no disco Symbol of Life (2002). Mas não carece de peso e densidade, sendo outro dos grandes destaques do disco.
E, por fim, deixei para o final a última faixa do disco, que foi com toda a certeza a que eu mais gostei. Return to the Sun é a síntese mais do que perfeita de tudo o que eu falei nesse texto: o passado, o presente e o futuro se unem em algo poderoso e grandioso, que saúda os dias de glória sem se perder em nostalgia nociva. A forma mais adequada de fechar a audição.
Na jornada do Paradise Lost, o ano de 2015 representou uma curva tão fechada que foi possível dar uma espiada no ponto de partida. Mas isso, de maneira nenhuma, significa dizer que eles voltaram para lá. Esses senhores não são mais aqueles garotos de vinte e poucos anos, eles envelheceram, ficaram mais maduros, a vida os testou e os transformou.
E essa jornada vai continuar; a deles, a minha, a nossa. E quem sabe o que ainda está por vir no caminho? Eu só sei que esperarei, com expectativa e ansiedade, os próximos marcos dessa trajetória.

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