Eu
passei por alguns momentos bastante complicados nas últimas semanas. A chuva
que caiu incessante sobre o Rio Grande do Sul comprometeu quase por completo
todo o meu trabalho na minha lavoura de tomate, e isso me deixou abalado
demais. Quem me conhece bem sabe como isso tudo é importante para mim, o que
até explica o nome desse blog, e viu no decorrer desse tempo o quanto eu fiquei
perturbado.
É
uma questão de identidade. Esse trabalho me dá um sentido pra vida, me faz ter
os dois pés no chão e me faz sentir que faço parte de algo, que o meu esforço
tem sentido e serve para alguma coisa. O dinheiro perdido é o que menos
importa. O problema, então, é agüentar a frustração e a angústia de ver todo o
esforço e a dedicação indo ralo abaixo por condições das quais eu não tenho o
mínimo controle. E o pior: esses sentimentos só fazem acordar os fantasmas do
meu passado que voltam pra me assombrar sem um pingo de piedade.
Mas
enfim, você aí que numa dessas estiver lendo esse texto deve estar se
perguntando: mas o que diabos isso tem a ver com o show do Blind Guardian?
Bom,
no fim das contas, tudo. Eu não consigo desassociar a banda dos meus
sentimentos cotidianos, ela é uma parte muito grande da minha, significa muito
e é o consolo que eu encontro em muitas e muitas vezes quando estou me sentindo
mal. A certeza de que eu os veria de novo ao vivo foi um dos fatores que me fez
conseguir passar por esse tempo difícil sem quebrar de vez (além do ombro amigo
de uma pessoa muito especial, mas isso é outra história).
Então,
como eu havia deixado claro lá no começo do ano na minha resenha do Beyond the
Red Mirror, o Blind Guardian não é só uma banda para mim. É muito, muito mais. E
poder vê-los outra vez teve o poder de juntar os cacos da minha auto-estima e
me fazer ser feliz de verdade.
Mas
não foi fácil. Além de toda a tensão psicológica se acumulando na minha cabeça,
peguei um resfriado forte que me deixou acabado, e ainda por cima tinha
desenvolvido algum problema na garganta que me deixou com uma tosse seca e irritante.
“Mau presságio”, pensei. Durante os
dias que antecederam o show me enchi de remédios tentando ficar bom, e a partir
daí fiquei em uma montanha russa de sensações entre melhoras e pioras. Na noite
de segunda feira fui dormir cedo com a intenção de ficar descansado. Ah, ledo
engano. A ansiedade já estava forte demais e fiquei muito tempo rolando de um
lado para o outro na cama até conseguir cochilar um pouco. Só para acordar às
três da manhã com uma dor nas costas absurda. “Um péssimo presságio”, pensei enquanto levantava pra tomar mais um
comprimido para a dor.
Seis
horas saí da cama de vez. Tomei banho, aprontei minhas coisas. Meu irmão me
levou na rodoviária e 8:30 embarquei no ônibus da Caxiense em direção a Porto
Alegre. Sentado naquele ônibus por uma hora e meia, com exatamente a mesma
ansiedade da primeira vez, quatro anos antes. Estava me sentindo bem, um nariz
incomodando um pouco, mas nada de muito ruim, além da garganta ainda um pouco
dolorida, que algumas pastilhas deram jeito. Estava tudo indo muito bem, o que
me deixava aliviado.
Dez
e meia desembarquei em Porto Alegre, me hospedei em um hostel bem perto do bar
Opinião e logo tratei de me mandar pra lá. Já tinha gente na fila, a Marina,
amiga de longa data, e mais um pessoal que tive o prazer conhecer. E nas horas
que se seguiram aconteceu a coisa mais surpreendente daquele dia inteiro: eu me
soltei, fui aberto e espontâneo, conversei com um monte de gente e fiz novas
amizades. Eu sinceramente não estava me reconhecendo. Eu sou uma pessoa um
tanto complicada, quem me conhece bem sabe disso, tenho uma dificuldade
bastante grande em me comunicar e ser sociável, me entrosar e me sentir parte
de um novo grupo. Mas naquele dia, da mesma maneira como fora em 2011, eu sofri
essa transformação que me deixou surpreso e alegre, me sentindo tão bem como em
muito tempo não me sentia. Mais uma coisa que me faz ser grato demais ao Blind
Guardian: essa capacidade de motivar e tentar ser uma pessoa melhor com o
próximo. São realmente poucas as coisas que conseguem ter esse efeito em mim.
As
horas foram passando. A fila foi aumentando e o calor também. Essa última parte
que eu preciso admitir que foi o lado ruim do dia. Em 2011 eu tinha passado o
dia inteiro em um calor parecido, tendo tomado quase nada de água e sem comer
nada, e isso não me afetou nem um pouco. Pensei que conseguiria o feito de
novo, mas, bem, não deu muito certo dessa vez. Lá pelas 18 horas eu já estava
bastante castigado, e amargando a minha teimosia. Mas a proximidade do início
do show me deu um ânimo extra que conseguiu fazer com que eu segurasse bem a
barra.
Às
20 horas entrei no Opinião, comprei a camiseta mais linda do mundo (os setenta
reais mais bem gastos da minha vida) e consegui me colocar em um lugar
excelente, bem na frente do palco. Faltava ainda uma hora e a ansiedade já
estava a milhão, exatamente o mesmo sentimento da primeira vez, o mesmo
excitamento e alegria, uma espécie de encanto que me fazia esquecer todo o
cansaço.
Pontualmente
às 21 horas começou a introdução de The Ninth Wave e a casa veio a baixo. Um
por um os integrantes foram entrando no palco e a aventura começou de verdade. E
que baita música pra se começar um show, grandiosa, cheia de variações, com um
refrão fantástico de se cantar junto com todo o fôlego. A banda está mais
afiada do que nunca, com uma química de palco excelente e esbanjando carisma.
Um começo de respeito.
Em
seguida tocaram Banish From Sanctuary, possivelmente a minha música favorita
dos primórdios da banda, e eles mostraram mais uma vez na excelente forma que
estão, descendo a pancada com todo o peso que a música tem. É outro refrão
empolgante que deixa o público ensandecido. Uma escolha perfeita pra continuar
o set a todo o vapor.
Então
chegou o ponto alto do show em minha humilde opinião. Nightfall foi algo que eu
nem consigo explicar direito o que me fez sentir. Me deixou em êxtase, foi algo
de epifania, de repente todo o cansaço desapareceu e por aqueles tantos minutos
eu estava 100%, com toda a energia e absolutamente eufórico. Uma das sensações
mais intensas e marcantes que já tive, realmente. Quando fui me dar conta já
estava chorando. Simplesmente fantástico.
Depois
que essa adrenalina deu uma diminuída, eu comecei a sentir o preço do dia
pesado que tinha sido aquele até ali. Minha boca estava seca, comecei a ficar
um pouco tonto e a garganta resolveu começar a me incomodar. Mas agüentei firme
Fly (sempre ótima nos shows), Tanelorn (que ao vivo é uma pancada e deixa o
público super animado), Prophecies (a minha favorita do disco novo) e The Last
Candle (um baita clássico que me deixou muito feliz de ver ao vivo, além do
coro de Somebody’s out there/ I feel
there's somebody repetido pelo público no final que foi de arrepiar).
Bom,
nessa hora eu já estava no meu limite e antes que acabasse desmaiando e
passando vexame fui até um dos bares da lateral, e tomei um litro de água em
menos de cinco minutos. Isso ajudou muito, logo me senti bem melhor. Mas nesse
meio tempo acabei perdendo o foco em Lord of the Rings, o que foi uma pena, mas
não comprometeu em nada a minha experiência.
Quando
eu estava ali bem acomodado, pude curtir o resto do show muito bem, com uma
seqüência muito boa de Time Stands Still (At the Iron Hill), Majesty e And the
Story Ends (uma grata surpresa, onde Hansi colocou um quê a mais na sua já
espetacular performance). A essa altura a euforia tinha dado espaço a uma
tranqüilidade contemplativa, eu estava simplesmente ali sorrindo feito um bobo,
feliz da vida.
Nisso a banda
deu uma saída do palco, mas logo voltaram para o primeiro bis. Tocaram então
Wheel of Time, o que gostei demais, pois essa foi uma que eu senti muito a
falta no show de 2011. Em seguida mandaram Twilight of the Gods, single de
Beyond the Red Mirror e que funciona muito bem em show. E encerraram esse
primeiro bis tocaram uma daquelas que nunca pode faltar nos shows: Valhalla.
Dizer que foi incrível seria redundância, não?
Mais uma
saída, mas a galera queria mais. Não tardou muito e a narração de Into the
Storm ecoa pelas caixas de som. É mais um daqueles refrões arrasadores, que
arrasta todo mundo e deixa o público ainda elétrico mesmo depois de quase duas
horas.
E se não pode
faltar Valhalla, muito menos poderia faltar The Bard’s Song – In the Forest. O
momento mágico que a multidão toma conta do show calando o vocalista, cantando
do fundo do coração e com toda a emoção. É daquelas coisas que são impossíveis
de não se emocionar. E pra fechar com chave de ouro, Mirror Mirror. Mais um
hino, mais uma explosão e o encerramento perfeito para esse show incrível de
onde todo mundo saiu exausto, mas com certeza feliz da vida.
Dezessete
músicas, duas horas de show. Eu completamente destruído, mas feliz e satisfeito
como nunca. Como tinha dito antes, eu não me sentia bem desse jeito fazia muito
tempo, muito tempo mesmo. Foi bom demais, rever bons amigos, fazer novos e
passar por tanta coisa legal. Ouvir histórias, contar histórias, rir, se
emocionar e viver àquelas horas com muita intensidade. Fantástico, apenas
fantástico.
Da mesma forma
como em 2011, cheguei em casa no dia seguinte com a sensação de dever cumprido.
Por causa dos problemas dos quais eu falei lá no começo, o meu fim de ano vai
ser bem apertado, dinheiro curto e tal, e talvez o que eu gastei nessa pequena
aventura me faça falta. Mas no final das contas eu pouco me importo, valeu cada
segundo e eu faria tudo de novo sem nem pensar duas vezes.
Por fim, já
deu pra entender o quanto o Blind Guardian é importante pra mim, e quanto a
chance de vê-los ao vivo mais uma fez foi algo que me ajudou a passar por esse
tempo difícil, e eu não vou me alongar muito mais porque acho que já falei
demais. Só queria dizer ainda que obviamente esse texto não é o que se possa
chamar de resenha, é muito mais um relato, intrinsecamente pessoal e passional,
passional como tudo o que essa banda representa pra mim. E também, assim como o
meu texto sobre Beyond the Red Mirror, é um agradecimento.
Obrigado Blind
Guardian, por mais uma vez me proporcionar um dos melhores momentos da minha
vida, por essa parte tão grande e importante da minha vida e por serem como
amigos pessoais, que sempre estão aí para mim com suas músicas nos momentos
bons e ruins. Obrigado de todo o coração, e espero poder vê-los novamente em
breve.
E
pra fechar, quero deixar registrado o mais forte abraço pro pessoal que fez
desse dia algo tão especial pra mim: Marina, Mariana e Lineker, os
remanescentes da fila de 2011; Lucas, Gustavo e Juliana, Marlon, Leandro,
Renata, Yasmin, Daniel, Marcelo e Marcos. E o Pedro Gabriel,grande amigo do Twitter. Além de todo o resto do pessoal que
estava lá também e eu acabei não pegando o nome. Vocês foram demais!
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