terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dragões Dançam e os Ventos vão soprar mais fortes



            Muita gente por aí vem dizendo que George RR Martin não tem mais interesse em As Crônicas de Gelo e Fogo e Westeros, pois entrega muito do seu tempo a outros projetos e aparentemente não coloca todo o seu foco na produção do próximo volume da saga. Tolas crianças do verão...

            Terminei de ler The Princess and the Queen, nova novela do autor que se passa em Westeros, durante a sangrenta guerra civil conhecida como A Dança dos Dragões*, que dividiu a família Targaryen e destruiu com praticamente com todos os dragões. A história se encontra na gigante coletânea multigênero Dangerous Women, editada pelo George em conjunto com seu parceiro de longa data, Gardner Dozois, mais um dessas empreitadas que irritam fãs mundo a fora. Eu, pessoalmente, nunca deixei de acreditar no nosso amigo barbudo do Novo México, mas essa história me fez ter toda uma nova expectativa para como vindouro The Winds of Winter.

            Você pode achar que a criatividade doentia e sangrenta do autor atingiu seu ápice no aclamado A Tormenta de Espadas. Lego engano, camarada. The Princess and The Queen, em suas menos de cem páginas, tem tanto sangue quanto os romances da saga principal. Tem traição, tem intrigas, tem manipulações e tudo mais do que nós tanto amamos. E o melhor de tudo: tem DRAGÕES. Muitos dragões. 

            Os dragões de Daenerys são um dos grandes atrativos da saga, sem dúvidas. Porém eles são jovens, pequenos e mal utilizados ainda por sua dona. Nem sombras são dos seus antepassados, as monstruosas feras aladas que Aegon o Conquistador usou para subjugar Westeros. Mas agora, George nos presenteia com uma narrativa que garante grande enfoque às criaturas, mostrando toda sua ferocidade, poder e magia. As batalhas no ar entre os dragões e seus cavaleiros são de uma grandiosidade impressionante. Realmente de tirar o fôlego e arregalar os olhos. E isso demonstra como George é um excelente contador de histórias. 

            Quando fiquei sabendo que a novela seria em forma de um relato escrito por um arquimeistre da Cidadela, fiquei com o pé atrás. Bem atrás. Honestamente, fiquei com algum medo. Porém, poucas páginas depois de começar a ler, não só entendi a escolha como também a achei perfeita. Se fosse pelo estilo tradicional, pelo ponto de vista dos personagens, a história precisaria de um livro inteiro e tão grande quanto os demais para ser contada. Já o relato do arquimeistre reúne os fatos conhecidos e relatados por outros meistres e escribas diversos, as incertezas e dúvidas sobre como as coisas realmente se desenrolaram, e questiona versões populares sobre os eventos, dando um panorama suficientemente profundo do conflito sem a necessidade mergulhar completamente nele. Ainda mais que a narrativa conta com aquelas piadas, ironias e ditos de nobres e plebeus que deixam a prosa tão cativante e divertida, mesmo com as descrições mais sangrentas e brutais de uma guerra insanamente cruel. 

            Além disso, há de se louvar essa incitativa de expandir temporalmente a história dos Sete Reinos. Os contos de Dunk and Egg deram início a esse processo, voltando noventa anos no tempo e nos dando toda uma nova percepção sobre Westeros, seu povo e seus senhores. Em The Hedge Knight, vemos acontecer algo que é citado em A Fúria dos Reis, quando o Lorde Comandante dá uma breve lição de história para Jon Snow na Muralha. Já em The Sworn Sword, aprendemos muito mais sobre a rebelião Blackfyre. Por sua vez, The Mystery Knight o fracasso de uma nova tentativa de rebelião e nos apresenta um intrigante personagem que voltaríamos a ver mais tarde. O que tínhamos ouvido da boca dos personagens d’As Crônicas.A História westerosi sendo costurada e tecida em uma grande tapeçaria.

            História. Mas uma História colorida, viva, cheia de emoções. George vai aos poucos consolidando seu universo como algo concreto, vívido, crível. Eu sempre enxerguei os personagens como seu maior trunfo, mas agora, com The Princess and the Queen juntamente com as aventuras do cavaleiro muito alto e do menino careca, o universo se equipara aos personagens, ou melhor, se fundem e se tornam indeléveis. 

            Agora me digam: um escritor que perdeu o interesse em sua maior obra faria tudo isso? Engrandeceria seu mundo a um nível ainda maior? Empenhar-se-ia horas e mais horas nesse objetivo? Presentearia seus fãs com algo tão bom e excitante? 

            Eu acho que não. 

            Por isso tudo, as minhas expectativas quanto a The Winds of Winter não poderiam ser maiores. Aumentou-se o que já era grande. 

            George não perdeu a mão, muito longe disso. Trilhou um caminho tortuoso em O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões, pois depois de A Tormenta de Espadas, ele se deparou com uma história imensamente grande e complexa, tanto que acabou se dando conta que não conseguiria chegar aos seus objetivos como planejara, e por isso um longo desvio com o pé fundo no freio se fez necessário. 

            Observando com atenção os acontecimentos dos dois últimos livros lançados, pode-se vislumbrar algo grande se aproximando, aquilo que George havia imaginado, finalmente tomando corpo. Infelizmente ele tinha nas mãos um nó meerense e não um górdio, e por isso não poderia usar uma solução Alexandrina.

            Mas, ao que tudo indica, vai valer a pena esperar. E como vai.





* Vale fazer nota que não tem qualquer relação com o quinto livro d’As Crônicas, o qual o título original em inglês é A Dance With Dragons, cuja tradução literal seria Uma dança com Dragões.

Nenhum comentário: